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Rio de Janeiro – Não chega a ser um objeto de culto, não pertence a nenhuma religião específica, embora tenha o visual e o nome do fundador de uma delas. Na verdade, é um bloco de cimento rude revestido de pequenas escamas, como as naves espaciais. Um gigante de muitos metros de altura, com os braços abertos, incansavelmente abertos apesar do gesto, não lembra uma cruz, mas um abraço.

Tem fama de ser a maior estátua do mundo, e talvez o seja. De tal maneira se integrou ao pedestal um penhasco negro e formidável que o conjunto é, de longe, um dos maiores momentos criados pela parceria do homem com a natureza.

O carioca se habituou a ele e ele se habituou ao carioca. Em todos os sentidos, é um carioca, incorporou-se a seu cotidiano e ao seu anedotário. Ateus, budistas, comunistas, judeus – todos concordam que ele é a cara do Rio.

É o primeiro a enfrentar nossos temporais, o primeiro a ouvir os tamborins dos morros nas vésperas do carnaval, o primeiro a ouvir o tiroteio de nossas ruas, o primeiro a lamentar nossas enchentes e misérias.

Se formos um dia destruídos por uma catástrofe, natural ou provocada, ele será a primeira vítima, o primeiro a morrer, com os seus imensos braços abraçando a todos nós. É da Lagoa que se tem a visão fantástica de seu pedestal de granito.

É na Lagoa que ele se reflete durante o dia, cercado de azul. E fosforescente como uma sereia iluminada, passeia nas águas escurecidas pela noite.

Referência maior da cidade, é referência particular da Lagoa. Todos o sabem ali, inarredável, oferecendo-se como um símbolo, um altar doméstico, uma âncora às avessas, jogada contra o céu. (Do livro "Lagoa", série Cantos do Rio, Relume Dumará, 2000).

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