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Rio de Janeiro – Nascera no Pará, acho que no interior do estado. Não tendo nada o que fazer, alistou-se na Força Pública que acabou incorporada às tropas do Exército do Norte, comandado, entre outros, por Juarez Távora durante a Revolução de 30.

Veio parar no Rio, vitorioso, mas desempregado. Nada sabia fazer de prático. Durante os movimentos das tropas não chegara a dar um tiro e nenhum tiro o atingira. Tornou-se notável pelo pavor que tinha dos defuntos e da morte.

Consta que ele veio do Pará até o Rio dentro de um tonel do trem de cozinha. Mesmo sendo de infantaria, passou o tempo todo servindo o rancho dos soldados, adquirindo certa prática nesse tipo de serviço.

Arranjou emprego num botequim do Estácio e prosperou. Dois anos depois, era garçom na confeitaria Cavé, uma das mais elegantes do Rio antigo. Sua feiúra era tão notável quanto seu pavor de defuntos. Mesmo assim namorou uma prima distante e com ela se casou – num caso complicado que terminou na polícia.

Na polícia começou outro caso envolvendo o casal. Não se sabe por que, a prima jogou sobre ele um bule de chá, provocando queimaduras de 2.º e 3.º graus. Novamente desempregado, queimado e repudiado por todos, pensou em matar-se – e só não cometeu o desatino porque não queria se transformar em defunto.

Chamava-se Sacadura. Não sei como arranjou um emprego na Leopoldina Railway e novamente prosperou, chegando a ser extra-numerário na divisão dos dormentes. Casou-se outra vez, com uma colega de trabalho, e, antes que ela lhe jogasse na cara um bule de chá, tomou ele a iniciativa de jogar o bule de chá na cara da mulher. Foi detido para averiguações e demitido de suas funções extra-numerárias. Na última vez que o vi, já faz muito tempo, vendia cachorro-quente numa das entradas do Maracanã.

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