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Rio de Janeiro – Alunos de uma faculdade de comunicação, certamente mal informados, me procuraram com algumas perguntas sobre a profissão que pretendem exercer. Minhas respostas foram de pouca valia. Não cheguei ao jornalismo por vontade própria, e há mais de 50 anos procuro me livrar dela. Todos os dias fico pasmo quando sou obrigado a exercê-la.

Respondi à pergunta dos jovens devolvendo a mesmíssima pergunta: por que eles queriam ser profissionais da comunicação? Com pequenas variantes, todos responderam que desejavam melhorar o mundo, denunciar os descalabros humanos e criar uma sociedade mais justa e consciente.

Bem, 50 anos atrás, a coisa era um pouco diferente. Nossas ambições eram mais modestas e práticas. Hoje, o pessoal chega às redações querendo descobrir o furo do dia, a "fonte" que vai dar o serviço sobre um escândalo à vista ou presumido, o ministro que está em processo de fritura, a verba da merenda escolar que financiou a viagem da família de um funcionário do alto escalão à Disneylândia. Realmente, tudo poderia ser melhor com a mídia vigilante, isenta, sem rabo preso.

Antigamente, o grosso do pessoal chegava à redação pensando onde iria almoçar, onde haveria uma boca-livre, uma inauguração qualquer que daria direito a uns comes e bebes. O resto vinha por acréscimo. Faltando assunto, descolava-se uma reportagem sobre um tema óbvio – aumento no preço do pescado na Semana Santa ou o estado calamitoso dos hospitais públicos.

Nem a primeira nem a segunda geração conseguiram salvar o mundo. É possível que agora, com a conscientização de uma nova leva de profissionais, a vida se torne mais suportável e o pessoal chegue às redações sem a banal preocupação do lugar onde poderá almoçar.

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