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Rio de Janeiro – O garoto estava com fome, não comia há dias, passou por uma mercearia e viu um pão atrás da vitrine. Roubou o pão. Foi preso, ficou 20 anos na cadeia, saiu da prisão e tornou-se um homem respeitável, chegou a prefeito de uma cidade do interior da França. Chamava-se Jean Valjean.

Um inspetor de polícia, Javert, o persegue durante toda a vida. A tese dele era simples: quem rouba um pão é um criminoso, fatalmente roubará outras coisas. O conflito entre Jean Valjean e Javert é a trama principal de "Os miseráveis", romance de Victor Hugo, um dos monumentos literários do século 19, filmado diversas vezes, tanto na França como nos Estados Unidos.

E por falar em filme, um marinheiro é assassinado pela polícia no cais de Odessa porque reclamou da comida servida a bordo do couraçado Potemkin. Ao filmar a revolta da tripulação, Eiseinstein mostra o corpo da vítima com um cartaz em cima: "Por um prato de sopa".

Cito dois exemplos, um da ficção, outro da história da Revolução Russa, para refletir sobre a desproporção do crime e do castigo – e estou citando outro monumento literário do século 19, o estudante que achava lícito roubar uma velha usurária porque julgava ter um futuro grandioso e precisava de dinheiro para chegar lá. Acabou matando duas velhas, foi perseguido pela própria consciência e por um policial que suspeitava dele.

Na lei mosaica que passou para o cristianismo na forma de dez mandamentos, ficou explícito o "não matarás" e o "não furtarás". Os diferentes códigos que regem a sociedade humana – independentemente da religião de cada uma delas – admitem exceções para o "não matarás", a legítima defesa, por exemplo. Para o furto não há exceções, mas reparações, como a de devolver o furto e aprender a lição.

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