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Rio de Janeiro – Animal urbano, sempre ouvi falar em coaxar de rãs, mas nunca soube exatamente o que era isso. Até que li, num jornal aqui do Rio, uma referência ao "coaxar de rãs" a propósito das críticas que estão sendo feitas, ao Rio em geral e ao carioca, em particular, por conta do Cristo Redentor, que foi considerado uma das sete maravilhas do mundo.

Alguma culpa o Rio deve ter para purgar tanta e tamanha esculhambação vinda de outros estados tão ou mais maravilhosos. A cidade assumiu a pretensão e folgou com a eleição – certo. No passado, ela já havia assumido por conta própria a condição de maravilhosa, contrariando a esposa de dom João VI, que, quando aqui chegou, em 1808 (vai fazer 200 anos daqui a pouco), considerou a velha aldeia colonial um burgo infecto, indigno de hospedar uma corte européia que estava fugindo de Napoleão.

E naquele tempo não havia balas perdidas nem a polícia promovia chacinas matando supostos marginais. E ninguém havia poluído a paisagem com uma estátua grosseira, de braços abertos, num gesto que parece pedir "me tirem daqui, não tenho nada a ver com esta cidade amaldiçoada e leviana".

Somando tudo isso, desconfio de que as rãs são sábias e seu coaxar, além de justo, é necessário para dar, a nós cariocas, um pouco de vergonha que nos falta pelo fato de termos nascido num chão de pecado e luxúria. O carioca é folgado por vocação e imprestável por opção. Nem as balas perdidas acabarão com a sua raça. Não precisa de um Cristo Redentor, mas de um anjo exterminador.

Um dia, arrancaremos do morro aquela estátua que consagra o nosso provincianismo mal-informado e ali colocaremos um mastro com enorme cueca – e teremos então o aplauso das rãs que louvarão nossas artes e ofícios.

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