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Rio de Janeiro – O pomar ficava entre os recreios das divisões de alunos do seminário onde estudei. Era época das laranjas e tangerinas, que eram roubadas não se sabia bem por quem – provavelmente por alunos de uma ou outra divisão. Foram criados dois grupos clandestinos para apurar quem estava roubando o pomar.

De um lado, os "punhais", que desejavam fazer justiça com as próprias mãos. Montaram um esquema de investigação onde valia tudo. Do outro lado surgiram os "garruchas", que investigavam os investigadores. Os ânimos se exaltavam, um punhal não podia falar com um garrucha nem mesmo na hora do terço e das ladainhas.

Foi então que surgiram os "navalhas". À primeira vista, pareciam agentes duplos, à cata da estratégia dos grupos adversários. A comunidade, que até então vivia pacificamente, ficou cindida em dois exércitos que se combatiam entre si e num terceiro exército que se infiltrou nos dois. A confusão foi geral, e as laranjas e as tangerinas aí mesmo é que continuaram sumindo.

Com o pomar devastado, aos poucos, os exércitos foram desmobilizados, punhais e garruchas fizeram um armistício e se voltaram contra os navalhas, tidos e havidos como dedos-duros, espiões dos superiores, que não sabiam como terminar com aquela guerra em defesa das laranjas e tangerinas.

Não havia mais por que brigar, uma vez que o pomar ficara em escombros. Mas os navalhas institucionalizaram a caça às bruxas que haviam roubado enquanto havia alguma coisa digna de ser roubada.

Bem, foi com espanto que fiquei sabendo da Operação Navalha, feita pela Polícia Federal e que resultou na prisão de gente importante que roubava do pomar público. Quem a batizou de "Navalha"? Onde estão os punhais e garruchas nessa história toda?

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