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Nada melhor do que um dia depois de outro com uma noite no meio. Sendo como sou, habituado a embarcar em ca­noas furadas e sempre contra a maré, inverto a frase anterior: nada pior do que uma noite depois de outra com um dia no meio.

O que fazemos de dia é assunto pessoal de cada um. O que fa­­ze­­mos durante a noite é mais complicado. Ainda que vivesse 1 milhão de anos não passaria pela ex­­periência do sonho que tive ou­­tro dia, quer dizer, outra noite.

O Moacyr Scliar, como excelente médico sanitarista, me ensinou que devia lavar as mãos cuidadosamente, várias vezes ao dia, para evitar entre outros males a gripe suína. Não bastava lavar a palma, é preciso lavar as costas da mão, os pulsos, o espaço entre os dedos.

Na noite daquele dia, sonhei que estava no banheiro do restaurante Alcaparra, no Flamen­go, lavava as mãos rotineiramente quando entrou, nada mais, nada menos, do que o presidente George Bush, pai. Ele começou a lavar as mãos, na pia dele não havia sabonete, pediu-me o que estava comigo. Passei-lhe o sabonete e ele lavou as mãos com esmero, seguindo os conselhos do Moacyr Scliar e silenciosamente me reprovando o fato de não ter feito o mesmo.

O sonho terminou aí, mas passei o dia meditando sobre o insuportável destino humano, que faz um cidadão misturar o Scliar e o Bush pai na sequência de um mesmo sonho. Tenho certeza de que o Scliar não mantém qualquer tipo de relação com o ex-presidente. Penso no meu querido amigo Scliar, preocupado com a minha saúde e com a saúde da plebe em geral. Nunca pensei em Bush, nem no pai, nem no filho nem no espírito deles. Como fui misturar tudo isso num sonho que me obrigou não somente a lavar as mãos novamente, mas a alma, o coração e o gesto.

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