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É apavorante a extensão da apropriação da coisa pública por políticos e partidos mancomunados com empreiteiras. Todos sabíamos que havia desvios, mas agora sabemos suas dimensões absurdas. O que ocorria nos governos anteriores, que já era obsceno, tornou-se uma verdadeira sangria do Erário no governo petista, que somou algumas ditaduras de estimação e toda uma máquina partidária direta ou indireta aos já muitos pensionistas informais sempre a locupletar-se com o dinheiro arrancado de quem trabalha e prometido a quem necessita.

O problema, na verdade, é cultural. Nossa cultura é personalista e patrimonialista, e nela simplesmente não faz sentido tratar a res publica, a “coisa pública”, como algo à parte de seus gestores. Quem tem em mãos a gestão da coisa pública tem esta por sua, e considera ser seu direito e dever usá-la em benefício dos parentes e amigos e de causas que tenha por nobres. Mais ainda: o cargo público, presente ou pretérito, é percebido como ascensão à nobreza. Prova-o o recente bilhete, de sintaxe inconfundível, em que dona Dilma afirma com todas as letras não ser uma pessoa como as outras, que podem viajar de avião de carreira. Ela não se percebe como equivalente ao primeiro-ministro inglês, que o faz; ao contrário, ela se vê versão tupiniquim da Rainha, que não o faz.

Faz tanto sentido uma impossível república brasileira quanto faria uma monarquia suíça: não é a nossa índole

Desde que um infeliz golpe de Estado bancado por escravocratas furiosos com a abolição tentou fazer do Brasil uma república, como quem tenta fazer de um poodle uma criança, nossa situação só fez piorar. No sucedâneo de trono – hoje instalado em Brasília, longe do povo por razões óbvias – sucedem-se pretendentes a Pai da Pátria; afinal, que outra coisa seria um rei a não ser um pai? De Getúlio a Lula, de Jânio a Dilma; desde o marechal Deodoro só tivemos reis falsos, sempre a distribuir dinheiro público para comprar corações. Governantes que se percebem ao mesmo tempo como ilegítimos – e por isso se veem obrigados a negociar, negociar sempre, fazendo do Erário sucedâneo das princesinhas que outrora se dava em casamento para traçar alianças – e como donos do que não lhes pertence: a coisa pública.

Faz tanto sentido uma impossível república brasileira quanto faria uma monarquia suíça: não é a nossa índole. Estaríamos menos mal com uma monarquia, qualquer monarquia; houvesse o marechal Deodoro – ou Getúlio, ou mesmo Lula! – começado uma dinastia, em vez de uma sucessão de demagogos com poucos anos para encher as burras, ainda estaríamos melhor. Nossa cultura é monarquista; aí estão Pelé e Roberto Carlos, entre tantos outros, que não me deixam mentir. A República impossível, como se poderia ter predito ainda no século 19, fracassou.

Que venha uma Rainha!

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