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Reza a lenda que o Príncipe Potemkin – amante de Catarina a Grande, da Rússia – mandava construir às beiras dos rios falsas aldeias, compostas de fachadas de madeira com fogueiras acesas por trás, para que a governante, ao passar de barco, se admirasse com a prosperidade dos seus domínios. O Brasil oficial é, ao menos desde a República Velha, uma espécie de aldeia Potemkin, para consumo tanto estrangeiro (temos até a expressão “para inglês ver”) quanto interno.

Mas as fachadas vêm caindo, e isso é ótimo. No Rio de Janeiro, a decretação oficial do estado de calamidade pública às vésperas dos Jogos Olímpicos – além da queda de uma ciclovia, a invasão de um dos hospitais olímpicos por dezenas de bandidos armados até os dentes e outros detalhes – tornou evidente que o “Brasil grande” lulista era apenas uma fachada. Na Copa, isso já tinha sido indicado pelo placar de 7 a 1 pelo qual a seleção brasileira perdeu seu primeiro jogo sério. Na política, a iluminação vem tanto da descoberta das roubalheiras obscenas do PT quanto das fortes evidências de rabo preso do presidente interino, que pode até querer melhorar a situação, mas primeiro tem de responder a centenas de picaretas no Planalto Central, e só depois, muito depois, ao povo e à realidade.

Para nós o que é certo ou errado o é independentemente de lei, e mesmo contra ela

Somos um país em que a lei não tem nada a ver com a moral, em que as leis são tantas e tão contraditórias que ninguém seria capaz de agir sempre de maneira perfeitamente legal. E é este mesmo país que tem uma das maiores proporções de advogados por habitante no mundo. São profissionais que lidam basicamente com um mundo de fantasia, que pode agir negativamente sobre o mundo real, mas pouco tem a ver com o funcionamento da vida cotidiana dos cidadãos. A maioria da população em geral nasce, cresce e morre sem ter contato algum com a lei. Ela não informa seus atos, pois para nós o que é certo ou errado o é independentemente de lei, e mesmo contra ela. Ela não a alcança, pois até a polícia age em função da moral, não da lei escrita, e apenas após um dificultoso indiciamento penal alguém vai ser julgado de acordo com a lei.

O Brasil por baixo disso tudo, no entanto, é um país legitimamente rico. Somos há mais de século espoliados por uma casta oligárquica que usa o Estado em benefício próprio, mas de 2013 para cá a população vem derrubando as fachadas de sua falsa ordem. Primeiro as passeatas, que nem os black blocks partidários conseguiram estragar de todo. Depois, a queda da Representanta de Lula. Agora, a falência decretada e mais que evidente do Estado-fachada do falso Brasil para inglês ver.

Que caiam todas as fachadas, e a beleza do Brasil real se revele.

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