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Na filosofia aristotélica, usa-se o termo "natureza" para definir o que todos os homens (ou cavalos, ou cachorros) têm em comum entre si. A natureza humana, como a canina ou a equina, são imutáveis. Um dogue alemão e um pinscher, por mais díspares que possam parecer, têm a mesma natureza, assim como um esquimó e um beduíno.

Esta é a igualdade de fato que todos temos, e é esta a fonte da dignidade humana, que deve ser reconhecida. Os homens, ensina-nos ainda Aristóteles, são animais naturalmente sociais. Está na nossa natureza viver em sociedade, e as regras desta sociedade devem estar de acordo com a natureza humana. Não se pode demandar o impossível, nem se pode negar a nossa natureza, com todas as suas falhas.

É da nossa natureza que nem sempre a razão domine os desejos, que tendamos a fazer o errado, a procurar o prazer imediato em detrimento da felicidade de longo prazo – nossa e da sociedade. Por isso, uma sociedade ordenada deve ajudar seus cidadãos a evitar os maus hábitos e cultivar os bons.

A ordem social não é nem pode ser algo criado externamente. Ela surge das interações entre as pessoas, buriladas por séculos de convivência. Ela, necessariamente, tolera muitos erros; afinal, ninguém é perfeito.

Está na moda, todavia, negar a natureza humana, ao mesmo tempo em que se afirma a superioridade dos desejos sobre a razão. Tenta-se hoje mudar por uma penada o que foi construído e provado ao longo dos séculos, vendo a igualdade não na natureza humana, mas nos atos dos homens. A busca do prazer imediato passa a ser percebida como um objetivo correto, ignorando o farto exemplo histórico da infelicidade gerada no médio e longo prazo por esta atitude.

O próprio sentido de "tolerância" é pervertido; "tolerar" deixa de ser permitir um mal menor e passa a ser vê-lo como o igual de um bem reconhecido. Gemidos gravados sobre percussão eletrônica passam a ser vistos como iguais a Mozart, e quem o nega é "intolerante". Quaisquer uniões baseadas em afeto e desejo passam a ser percebidas como exatamente iguais àquelas que asseguram a continuidade do homem e da sociedade, e quem o nega é "intolerante".

É, repito, da natureza humana ter dificuldades em submeter os desejos à razão. Para ajudar a fazê-lo, contudo, é que o homem é naturalmente social. Quando a sociedade deixa de ajudar neste afã e passa a prezar mais o prazer imediato que a continuidade da ordem social, é ela mesma que comete suicídio. Socialmente, estamos fumando crack para combater a depressão. Não é por aí.

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