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O ensinamento deste domingo, primeiro do Advento,  brota tanto do texto das leituras quanto do seu lugar no início do ano litúrgico: orientando-nos para o Senhor que vem, esboça a perspectiva global do "tempo cristão". Desde o início nos é apresentada a perspectiva final: a vinda do Filho do Homem. Nesta perspectiva, porém,  não dominam ameaça e medo, e, sim, a luz orientadora para o nosso caminho: "A ti, Senhor, elevo minha alma". Para entender o espírito do advento e da escatologia cristã é preciso ver a relação entre a espera do Messias e a expectativa cristã. A espera veterotestamentária do Messias prefigura a expectativa cristã do "Senhor que vem"; na segunda vinda no fim dos tempos, e, sobretudo, cada dia no encontro de cada um e de toda a comunidade com Jesus, Senhor de nossa vida. Por isso podemos "correr ao encontro do Cristo que vem".

Neste e nos próximos domingos aparecem nas leituras as utopias do Antigo Testamento, imagens daquilo que se espera de Deus, quando vier o seu Cristo-Messias. O Messias implantará a "paz" ( harmonia e felicidade) no monte santo, ao qual todas as nações, inclusive nós, somos convidados a subir com alegria: consideremos: a utopia de transformar as lanças em foices... tanques de guerra em tratores... O evangelho fixa nossa atenção nesta nova vinda. Não podemos viver dormindo.

Devemos viver em estado desperto, à luz do dia de Cristo para que Ele sempre nos possa encontrar dispostos para a vida de incansável caridade que Ele nos ensinou. Jesus veio inaugurar o projeto definitivo de Deus para o mundo. Ele será também juiz da História, na sua vinda final. Esse projeto de Deus, que Jesus veio inaugurar e que Ele julgará, é comunitário.  É a constituição de um povo de Deus, formado por todas as nações, dispostos a praticar a justiça e a caridade fraterna.

Para que isso se realize; deve acontecer uma transformação histórica. Nós devemos dar os necessários passos históricos, para que o plano de Deus chegue até nós: preparar pela transformação de nossos corações e de nossa sociedade, a plenitude que vem de Deus. Nossa participação no projeto de Deus consiste em tornar a nossa sociedade "digna de uma nova vinda de Cristo".

Nisto se inserem, além do nosso em­­penho pessoal, os passos da co­­mu­­nidade para maior solidariedade: mutirões, cooperativismo etc. O Cristo vem também, cada dia, na vi­­da de cada um. Que Ele nos en­­contre comprometidos com a construção da História como Ele a "so­­nhou" e com os critérios que Ele u­­sará para julgar: o amor aos me­­no­­res dos irmãos, sustentado pela oração, na qual expomos nossa vi­­da diante dele. Atentos às coisas do Se­­nhor, teremos paz profunda e se­­remos capazes de dedicação to­­tal na alegria, no trabalho e na luta.

Tal é a perspectiva cristã da vida e do mundo: revivendo a sempre atual expectativa messiânica, isto é, a salvação que vem de Deus, animamo-nos a assumir, por nossa parte, uma atitude ética renovadora, que transforma a nós mesmos, nossa sociedade e o mundo. O Filho do Homem virá arrematar a História e julgar nossa vida, mas ninguém conhece a hora.

Apesar dos presságios Ele vem de repente. Consequência: não calcular, mas estar pronto. Isso vale tanto para nossa existência aqui e agora, quanto para o fim dos tempos. O Senhor deve encontrar-nos "vigiando" sempre, não inquietos, mas dedicados ao seu serviço na prática do amor ao nosso irmão.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.

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