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O evangelho deste domin­­go nos apresenta o episódio do apóstolo Tomé. A sua dúvida se tornou proverbial. A quem manifesta alguma desconfiança, costumamos dizer: "Você é incrédulo como Tomé!" Entretanto, a bem da verdade, não parece tenha feito alguma coisa errada: queria somente ver o que os outros tinham visto. Por acaso estava certo exigir só dele uma fé baseada na palavra? Quando o evangelista São João escreve por volta do ano 95 d. C., Tomé já havia morrido há muito tempo, portanto, isto não é narrado para menosprezar este apóstolo. Se for dado enfoque especial, com tanta insistência, aos problemas sobre a fé que ele enfrentou, o motivo é outro e é o seguinte: o evangelista quer responder às perguntas e às objeções que os cristãos das suas comunidades levantam com uma teimosa insistência. Trata-se de cristãos da terceira geração, de pessoas que não viram o Senhor Jesus.

Muitos deles nem sequer conheceram um dos 12 apóstolos. Têm dificuldades para crer, debatem-se em meio a muitas dúvidas, gostariam de ver, tocar, verificar se o Senhor de fato ressuscitou. Questionam-se: quais são os motivos que podem nos induzir a acreditar? É ainda possível para nós fazermos a experiência do Ressuscitado? Há provas de que Ele esteja vivo? Por que não aparece mais? São perguntas que também nós nos fazemos hoje. O que João quer dizer aos cristãos das suas comunidades e a nós também é o seguinte: o Ressus­­citado tem uma vida que não pode ser apalpada com as mãos e nem vista com os olhos. Só pode ser objeto da fé. Isto vale também para os apóstolos, embora tenham tido uma experiência única do Ressuscitado. Não pode haver fé naquilo que foi visto.

Não há provas científicas da ressurreição. Se alguém quiser ver, tocar, constatar, deve renunciar à fé. Nós afirmamos: " Bem-aventurados os que viram". Para Jesus, ao invés, bem-aventurados são aqueles que não viram. Por quê? Talvez seja mais difícil para eles acreditar e, portanto, são credores de maiores méritos. Mas não é assim. Felizes são eles porque têm uma fé mais genuína, mais pura; aliás, esta é a única fé realmente pura. Aquele que vê tem a certeza da evidência possui a prova irrefutável de um fato, mas não a fé.

O caminho que todos os discípulos são chamados a percorrer é apresentado por João no final deste trecho: "Jesus fez ainda muitos milagres na presença dos discípulos. A única prova que é apresentada para aqueles que procuram motivos para acreditar: o próprio Evangelho. Nele ecoa a palavra de Cristo, nele resplandece a sua pessoa. Diante da proposta que nos vem do Evangelho, todos são convidados a dar a sua adesão; mas podem recusá-la também. Não há outras provas além desta mesma palavra.

Para entender tudo isso, bom é lembrar aquilo que Jesus diz na parábola do Bom pastor: "As minhas ovelhas conhecem a minha voz" (Jo 10,4-5) Não são necessárias aparições! No Evan­­gelho ecoa a voz do Pastor e para as ovelhas que lhe pertencem o som da sua voz é suficiente para que o reconheçam e o sigam.

Dom Moacyr José Vitti é arcebispo metropolitano

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