Aos seus discípulos Jesus havia prometido que não os deixaria sozinhos e que lhes enviaria o Espírito (Jo 14,16. 26).
Hoje celebramos a festa deste dom do Ressuscitado. Afirmando que o Espírito descera sobre os discípulos, justamente no dia de Pentecostes, o evangelista João nos quer ensinar uma só coisa: que o Espírito havia substituído a antiga lei e que se transformara na nova lei para o cristão. O que ele quer dizer? Eis o que é a lei do Espírito. É o coração novo, é a vida de Deus, que quando entra na vida do homem o transforma e de sarça que é se torna uma árvore fecunda, capaz de produzir espontaneamente as obras de Deus.
Quando o homem fica inundado pelo Espírito, nele acontece algo incrível: ama com o mesmo amor de Deus. A partir daquele momento ele "não precisa mais que alguém lhe ensine" (I Jo 2,27), não precisa mais de qualquer lei. João chega a dizer que o homem animado pelo Espírito, se torna incapaz de pecar: "Todo aquele que nasceu de Deus, não comete pecado, porque nele está radicada uma semente divina e não pode pecar porque ele nasceu de Deus" (I Jo 3,9).
O Espírito é um dom destinado a todos os homens e a todas as nações. Diante deste dom de Deus caem todas as barreiras de línguas, raça ou nação.
No dia de Pentecostes acontece o contrário do que aconteceu em Babel. Lá todos os homens começaram a não se entender, a afastar-se uns dos outros; aqui o Espírito inicia um movimento inverso: reúnem os homens que estavam dispersos. Os que se deixam transformar pela palavra do Evangelho e do Espírito, falam uma língua que todos entendem e que a todos une: a linguagem do amor. É o Espírito que transforma a humanidade numa única família onde todos se entendem e se amam.
A solenidade de Pentecostes celebra um acontecimento capital para a Igreja: a sua apresentação ao mundo. Complemento da Páscoa, a vinda do Espírito sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado no coração e atividade dos discípulos; início da expansão da Igreja e princípio de sua fecundidade, ela se renova misteriosamente hoje para nós, como em toda a assembléia eucarística e sacramental, e, de múltiplas formas, na vida das pessoas e dos grupos até o final dos tempos.
A plenitude do Espírito é a característica dos tempos messiânicos, preparados pela secreta atividade do Espírito de Deus que "falou por meio dos profetas" e inspira em todos os tempos os atos de bondade, justiça e religiosidade dos homens, até que encontrem em Cristo seu sentido definitivo. "Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, e ação moral uma ação de escravos. Mas no Espírito o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo Ressuscitado se faz presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica" (Atenágoras).
Dom Moacyr José Vitti CSS, Arcebispo Metropolitano de Curitiba
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