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No evangelho de hoje, os fariseus fazem esta pergunta a Jesus: "É permitido a um marido repudiar a sua mulher?". Ao responder à pergunta que lhe foi dirigida Jesus esclarece, antes de tudo, o significado autêntico da lei de Moisés, lei que Ele não quer abolir, mas explicar. O livro do Deuteronômio parece permitir o divórcio: "Se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela e vier aborrecer-se dela por descobrir nela qualquer coisa inconveniente, escreverá uma carta de divórcio, lha entregará na mão e a despedirá de sua casa" (Dt 24,1). 

Eis a explicação de Jesus: Moisés não deu qualquer permissão para divorciar. O divórcio existia muito antes do que ele. Ele somente estabeleceu regras e limites para uma situação problemática que sempre existiu e era aceita por todos. Não exigiu dos israelitas um comportamento superior ao dos outros povos. Limitou-se a estabelecer uma norma que desse proteção à mulher: determinou que seu esposo lhe desse uma carta de repúdio, de modo que pudesse casar novamente. Havia maridos que mandavam embora a própria mulher, uniam-se com outra e em seguida comportavam-se como se nada tivesse acontecido, de modo que, se a mulher se unia com outro, podiam acusá-la de adultério (que implicava a pena de morte).

A lei de Moisés protegia a mulher desse abuso do marido: a carta de repúdio a deixava livre. É muito significativo que Jesus fale daquilo que Moisés "mandou" e que os fariseus respondam, falando daquilo que Moisés permitiu". Jesus reconhece o valor da determinação estabelecida no Livro do Deuteronômio, que considera obrigatória. A tolerância manifestada por Moisés ainda não é a expressão ideal do projeto originário de Deus.

Depois de ter explicado com precisão o sentido da norma do Antigo Testamento, Jesus convida para ir além das normas e para reler os primeiros capítulos do Gênesis. Partindo da narrativa da criação transparece com toda a clareza o sentido da sexualidade. "No princípio" os ho­­mens foram criados homem e mulher, não para que se entreguem em orgias, aventuras, sensações, mas para que formem casais estáveis, unidos numa única pessoa pelo amor e pela bênção do Senhor.

A separação se transforma num atestado destruidor da obra de Deus. O divórcio, como a poligamia, não faz parte do projeto de Deus. Essas instituições foram introduzidas pelos homens e toleradas por algum tempo, por causa da dureza do coração deles. Com Jesus começa no mundo o Reino de Deus, cumprem-se as profecias, aos homens são dados " um coração novo e um novo espírito", deles é arrancado "o coração de pedra" e "implantado um coração de carne" (Ez 36,26).

Chegou a hora de abandonar as exceções, a mesquinhez, os subterfúgios e voltar ao rumo do ideal indicado "no começo" pelo Senhor. Somente no matrimônio monogâmico e indissolúvel respeita o projeto de Deus e alcança o objetivo pelo qual os homens foram criados "homem e mulher". Todas as demais formas de convivência, embora muito antigas e culturalmente compreensíveis, não respeitam a dignidade do homem e da mu­­lher.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano

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