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Muitos anos antes de Cristo, um sábio, já de idade avançada, refletindo sobre a caducidade da vida, chega à conclusão de que o homem é "como a erva virente, que viceja e floresce de manhã, mas que à tarde é cortada e seca" (Sl 89,5-6). É uma constatação amarga, desconsolada, melancólica. Que fazer então? Se a vida é tão breve – concluem os estultos – "vinde, portanto! Aproveitemo-nos das boas coisas que existem! Vivamente gozemos das criaturas durante nossa juventude! Inebriemo-nos de vinhos preciosos e de perfumes, e não deixemos passar a flor da primavera! Coroemo-nos de botões de rosas antes que eles murchem! Ninguém de nós falte á nossa orgia" (Sb 2,6-9). "Não há nada de melhor para o homem que comer beber e gozar o bem-estar no seu trabalho" (Ecl 2,24).

O sábio salmista não se deixa seduzir por essas propostas e, em face do acontecimento inelutável da morte, dirige ao Senhor esta amargurada invocação: "Ensinai-nos a bem contar os nossos dias, para alcançarmos o saber do coração" (Sl 89,12). Fatigamo-nos, esforçamo-nos, agitamo-nos muito, brigamos, angustiamo-nos para conseguir sempre mais riquezas, mais sucessos, mais prazeres. Se levássemos em consideração "a brevidade dos nossos dias", as coisas pelas quais lutamos tão encarecidamente seriam redimensionadas e nos apareceriam, talvez, em toda sua insignificância e mesquinhez. Não nos mostramos sábios quando procuramos de todas as maneiras afastar da morte nosso pensamento, quando evitamos até pronunciar a palavra " morte".

Preferimos falar de partida, desaparecimento, falecimento, passagem, finar.. E, no entanto a morte é companheira de nossa vida. Dores, desilusões, traições, desventuras, doenças e males são diminuições de vida e continuamente nos recordam a precariedade de todas as realidades terrenas. No dia de amanhã a liturgia faz memória de todos os defuntos, não para atemorizar-nos, mas para levar-nos à "sabedoria do coração", para nos fazer descobrir o verdadeiro sentido desta vida e para lembrar-nos a alegre verdade sobre a qual está fundamentada nossa fé: a ressurreição. Dizia muito bem Tertuliano – um dos padres da Igreja dos primeiros séculos – "a esperança cristã é ressurreição dos mortos; tudo o que somos nós o somos enquanto acreditamos na ressurreição". É, portanto alegria, não o medo e a angústia, que, amanhã, a palavra de Deus nos quer comunicar, a alegria de quem recebeu do alto a luz da Páscoa que ilumina cada sepultura.

Dom Moacyr José Vitti CSS Arcebispo Metropolitano

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