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Hoje é a festa da família cristã. É o dia em que os homens tomam consciência do dom que o Pai lhes concedeu: em Cristo Deus tornou-os membros de sua família, comunicou-lhes seu Espírito, sua santidade. A santidade não é uma condição superior que possamos alcançar com nossos esforços ascéticos, não é fruto do nosso heroísmo, é um puro dom de Deus. Só Ele pode tornar-nos santos. O homem sempre sentiu uma profunda necessidade de encontrar Deus, de interrogá-lo, de conhecer seus pensamentos, de descobrir seus planos. Mas onde encontrá-lo. Onde marcar um encontro com Ele? Nos tempos antigos pensava-se que o lugar onde se podia entrar em contato com Deus eram os cumes das montanhas, sobretudo aquelas que a tradição indicava como lugares sagrados.

Também Israel partilhava essa concepção religiosa. As experiências espirituais mais fortes, Moisés, Elias as tiveram "no alto da montanha". O evangelista Mateus coloca o primeiro discurso de Jesus pronunciado na montanha. A devoção cristã identificou essa montanha com a colina próxima de Cafarnaum. As religiosas que guardam essa área transformaram-na em um oásis de paz, de recolhimento, de reflexão, de oração.

Passeando sob as árvores majestosas, ouvindo o rumor das folhas movidas pela brisa que desce dos cumes nevados do Líbano, contemplando do alto o lago que tantas vezes foi sulcado pela barca de Jesus e dos discípulos, sentimo-nos quase naturalmente levados a alçar o olhar para o céu e o pensamento para Deus. Por mais que possa ser sugestiva essa experiência, "montanha" da qual fala Mateus não deve ser entendida em seu sentido geográfico, mas no seu significado bíblico. Mais que um lugar real, "a montanha" é qualquer lugar ou momento em que nos abrimos à palavra de Deus. Podemos visualizar a cena: Jesus abandona a "planície". É como se saísse da terra onde se movem os homens "normais", os que se regem de acordo com a "sabedoria", a esperteza deste mundo.

Essa manha egoística e maligna que leva a pensar assim: "a saúde é tudo", "o que interessa é o sucesso", "feliz aquele que tem uma bela conta no banco", "feliz é aquele que pode viajar, divertir-se, gozar de todos os prazeres", "o que me interessa é o sexo", "sacrificar-me, fazer renúncias em favor dos outros? Nisso não quero nem pensar!". Será uma pessoa realizada quem partilha de semelhantes propostas de vida? O que pensa Deus disso? Para não correr o risco de desperdiçar nossa existência é preciso conhecer o que Deus pensa a respeito. Hoje acompanhamos Jesus ao alto da montanha para escutar suas propostas de felicidade, de sucesso, de bem-aventurança. São propostas desconcertantes, verdadeiramente insensatas para quem tem a mente já transtornada por tantas propostas sugeridas pela "sabedoria dos homens".

O Evangelho de hoje nos indica as bem-aventuranças. Estamos passando o tempo de nossa gestação, e é insensato prender o coração aos bens deste mundo, como se tivessem de pertencer-nos de maneira definitiva. Cristo nos sugere que os empreguemos para construir amor, para transformá-los em dom.

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