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Uma história antiga. Por volta do ano 1000 a. C., o Rei Davi consegue firmar seu "império" e pensa construir uma " casa" para Deus, um templo. Mas Deus manda o profeta Natã dizer a Davi que Ele não é de viver em templo: acompanhou o povo de Israel pelo deserto numa tenda, a Tenda da Aliança. E mais: Ele, Deus, vai construir uma casa para Davi, casa no sentido de família, descendência. E então, Deus será como um pai para o descendente do rei. Mil anos depois, Deus se mostra fiel à sua promessa.

Vive em Nazaré um descendente remoto de Davi. Chama-se José. Tem uma noiva, Maria. Nesta, ligada à casa de Davi por ser noiva do descendente, Deus quer suscitar, pela misteriosa ação do seu Espírito, o prometido "filho de Davi". Conforme a promessa, Deus será um pai para o prometido, que será para Ele um filho: o  "Filho do Altíssimo", o Messias (Lc 1,32). Maria não consegue imaginar como isso será possível. Ela nem está convivendo com José. Então Deus lhe dará um sinal para mostrar que ela pode confiar em sua palavra. Faz-lhe conhecer a gravidez de sua parenta Isabel, que era estéril. E Maria confiante na fidelidade de Deus, dá o seu "sim".

"Aconteça-me segundo tua palavra" (Lc 1,38). Deus dá sinais. As profecias que revelam o modo de Deus agir, são sinais da fidelidade de Deus. "Que de Maria nasça um remoto "filho de Davi" é um sinal de que Ele é" Filho de Deus", obra de Deus na humanidade. Ora, para realizar seu projeto, Deus se expõe ao "sim" dessa mocinha do povo. Assim, o "Filho de Deus" será um " verdadeiro filho da humanidade" alguém que faça parte da nossa história e nos liberte de verdade. Só o que é assumido pode ser salvo, diz Santo Irineu. Se Jesus não fosse verdadeiro filho da humanidade, nossa salvação nele seria mera ficção.

Não expliquemos. Contem­­plemos. "Revelação de um Mistério envolvido em silêncio desde os séculos eternos" (Rm 1,25). Não peçamos a Deus que justifique seu modo de agir para os nossos critérios "científicos". Quanto sabemos das coisas da criação e das do Criador? Admiremos o modo de Deus se tornar presente. E, sobretudo, não queiramos fazer da mãe de Jesus uma Maria qualquer. Será que temos medo de reconhecer que, em algumas pessoas, Deus faz coisas especiais? Estamos com ciúmes? Ora, não acha cada qual a sua namorada excepcional em comparação com as outras moças? Não neguemos a Deus esse prazer. 

Esta, admiração, porém, não é alienação. Só por ser verdadeiramente humano é que Jesus realiza entre nós uma missão verdadeiramente divina. Pois, se fosse um anjo, nada teria a ver conosco. Jesus é tão humano como só Deus pode ser. Que Ele é descendente de Davi significa que Ele resume em si toda a história da humanidade. Resume, recapitula, reescreve essa história. A história de Adão, a história de Davi, do " reinado" , da comunidade humana política e socialmente organizada. Será que desta vez vai dar certo, menos guerras, adultérios, idolatrias? Da sua parte, a "qualidade divina"  da obra está garantida. Deus está com Ele " Emanuel". Mas, e da nossa parte?

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano

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