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Imaginemos que um de nós, desejoso de preparar-se conveniente para o Natal, faça a mesma pergunta àquelas pessoas consideradas "especialistas" em problemas religiosos (o catequista, o dirigente da comunidade, a irmã, o padre). O que lhe responderiam? "Alguém poderia lhe sugerir que ajudasse algum irmão que se encontra em uma situação difícil ou que visitasse algum doente, mas, em geral, as respostas tomariam outro rumo bem diferente: "Reze um terço todos os dias"; " Reze três vezes a Salve Rainha antes de deitar"; "Faça uma boa confissão". O que o João Batista exige das pessoas que vão pedir uma orientação não está de forma alguma nesta linha. Ele não aconselha nada de especificamente "religioso", não sugere práticas de devoção, formalidades, procedimentos penitenciais (imposição de cinzas, jejuns, orações, retiros espirituais no deserto).

Exige alguma coisa muito concreta e radical. Ao povo ele diz: "Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem, e quem tem o que comer faça o mesmo". Isto sim que é falar claro. Por tentar substituir com orações e com devoções a única coisa indispensável: a partilha dos bens com os mais necessitados? Se quisermos que o Messias traga a salvação ao mundo, as montanhas (os que têm bens materiais em abundância) devem encher os vales (aqueles que nada têm). Enquanto existirem no mundo desigualdades e riquezas escandalosas ao lado da miséria e da fome, é inútil esperar que o Salvador possa manifestar-se. É necessário que antes se proceda a um nivelamento. Como está a partilha dos bens na nossa comunidade cristã? De boa vontade nos reunimos para rezar, para cantar, mas quando somos solicitados para colocar à disposição dos nossos irmãos os bens que possuímos... todos os nossos ímpetos de entusiasmo desaparecem de repente. E o Batista até que é "compreensivo", em consideração à fraqueza humana, pois diz: "Se tiveres duas túnicas, dá uma a quem não tem".

Jesus, dos seus discípulos, exigirá ainda mais: "E ao que te tirar a capa, não o impeças de levar também a túnica"! (Lc 6,29). Na segunda parte do evangelho de hoje, João Batista retoma sua linguagem costumeira, dura, severa, quase intolerante. Fala da separação do trigo e da palha, e ameaça com a destruição no fogo inextinguível. Parece que aos pecadores ele não deixa oportunidade alguma de dançar e de alegrar-se: a ruína eterna os espera. O duro discurso de João, porém, é concluído pelo evangelista com uma frase surpreendente: "É assim que ele anunciava ao povo a boa nova, e dirigia-lhe ainda muitas outras exortações". Para Lucas, a mensagem do Batista só contém " palavras de conforto" e é uma " boa nova".

A forma de se expressar de João talvez não seja apropriada para a sensibilidade dos nossos dias, não é nem delicada nem simpática, mas o que comunica é alegria e esperança. A alegria do cristão não deve ser confundida com a gargalhada tola e insulsa do beberrão, nem com a satisfação desabrida de quem se impõe pela violência, nem com o prazer de quem explora o mais fraco e indefeso. Há muitas alegrias que não são cristãs! O Batista nos indica o caminho que permite que o nosso coração seja inundado pela verdadeira alegria: basta que preparemos a vinda do Senhor na nossa própria vida, mediante a partilha dos nossos bens com os pobres e mediante a recusa a qualquer forma de violência e de opressão.

Dom Moacyr José Vitti CSS arcebispo metropolitano

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