• Carregando...

Aproximamo-nos do fim do ano. A palavra de Deus destes últimos domingos, com forte tom de esperança, nos propõe assumir, na transitoriedade da vida, nossa vocação de peregrinos, nossa missão escatológica, a realização definitiva do Reino como dom e responsabilidade entregues a toda a humanidade. A palavra que Deus nos fala hoje enfoca o mundo da economia e nos ajuda a entender o mistério de seu Reinado. A expectativa e a vigilância convertem-se em responsabilidade pela transformação do mundo.

Manter-se vigilante é sentir-se responsável pelo Reino. A responsabilidade é proporcional ao "talento" recebido para pôr a serviço. O servo infiel não produz rito por medo e pela idéia errada que ele tem de Deus. O medo leva ao fatalismo e à omissão. A imagem de um Deus severo, cruel e castigador paralisa a pessoa. Jesus apresenta Deus como misericórdia e bondade. O servo mau pertence ao reino da esterilidade, e seus talentos permanecem na escuridão. Ele não é sábio, procura a segurança em lugar errado, é um conservador, não enfrenta os desafios da luta pela transformação. A espera do patrão se dá no serviço, no dinamismo, na fidelidade ativa e não no comodismo. A parábola dos talentos fala não da parusia, mas sim do prazo que nos é dado por fazer frutificar o que recebemos de Deus.

O patrão da parábola é o próprio Deus. Ele nos confiou seus bens, a cada um conforme sua capacidade. A um deu cinco, a outro dois e outro um talento. Quais são os talentos que Deus nos confiou? O grande tesouro a nós confiado foi o Reino de Deus para que o façamos frutificar.

A parábola de hoje nos mostra como devem agir os que receberam as responsabilidades do Reino da justiça trazido por Jesus. Na hora do acerto não há discriminação em graus de premiação. Quem lucrou dois e quem lucrou cinco recebem a mesma resposta: "Muito bem, servo bom e fiel! Venha participar da minha alegria!" Quem luta pela justiça do Reino é servo bom e fiel! Mas um servo tem medo do patrão. O medo de arriscar nos paralisa e expressa à idéia que se tem de Deus: " É severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o meu talento no chão, para guardá-lo. Eis o que te pertence". Esse medroso fez uma imagem de Deus como patrão cruel, um ídolo.

A resposta do "patrão" a esse servo foi: "Servo mau, preguiçoso, imprestável!" Os dois primeiros enfrentaram o risco e este último tornou inútil o bem de Deus. Deus é amor! Arrisquemos viver por amor! Deus é amor, Ele afasta o medo". A parábola mostra a grandeza e a fragilidade de Deus. Sua grandeza está em nos entregar seus bens. Nada retém para si.

Tudo é entregue. Sua fragilidade é confiar em nós, que podemos desperdiçar toda sua riqueza. Deus arrisca perder confiando em nós. Sua fragilidade ressalta sua grandeza e bondade. A Palavra de Deus hoje nos convida a viver como filhos da sabedoria, da luz e do dia. Impele-nos a entrar na luta com coragem e responsabilidade para que o Reino de Deus cresça neste mundo. Não desperdicemos os talentos que são de Deus, a nós entregues em confiança.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]