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Ao lermos o Evangelho da Noite de Natal devemos ter o cuidado para não nos deixar levar pela emoção e nem nos deixar iludir pala fantasia dos sonhos. Esta página não tem a finalidade de comover os leitores e muito menos de dar informações sobre o nascimento de Jesus: não pretende satisfazer nossa curiosidade. Se disso se tratasse, teríamos o direito de nos queixar de Lucas que nos narrou tão poucas particularidades. Nós, na verdade, gostaríamos de conhecer outras coisas. Essa narrativa nos quer apresentar, num maravilhoso prelúdio, aquilo que os cristãos das primeiras gerações, guiados pelo Espírito, tinham conseguido entender sobre a pessoa de Jesus, morto e ressuscitado. Esta passagem começa com uma ambientação histórica e geográfica bem definida. Era tempo no qual reinava em Roma César Augusto, o grande Imperador, que tinha ampliado o seu domínio sobre o mundo inteiro, acabando com todas as guerras e estabelecendo a paz em todo o seu reino.

O lugar onde Jesus nasceu foi Belém, uma cidade, um vilarejo de pastores, perdida nas montanhas da Judéia. Lucas nos quer dizer, com essas informações, que esse nascimento, não é um mito a ser relegado ao mundo das fábulas, mas sim que é um acontecimento real e concreto. O nascimento do Filho de Deus foi absolutamente igual ao nascimento de qualquer outro homem. A referência a Belém é muito importante de uma forma muito especial porque os profetas tinham afirmado que o Messias, descendente de Davi, teria nascido na mesma cidade desse grande rei (Mq 5,1). Deste modo, Lucas nos apresenta Jesus como o Messias esperado, anunciado pelos profetas, e por Isaías de modo particular.

Também as palavras colocadas nos lábios do anjo: "Hoje nasceu para vós um Salvador..." destacam essa realeza: trata-se, de fato, da fórmula com a qual era anunciado ao povo romano o nascimento do imperador. Desde o começo, porém, esse rei tem atitudes desconcertantes: não nasce num palácio, mas numa gruta; não dispõe de nenhum daqueles instrumentos que nós homens julgamos indispensáveis para promover a transformação do mundo (o dinheiro, as armas, o domínio, as alianças com os poderosos).Surpreende também o sinal dado aos pastores para identificá-lo. Não lhes é anunciado, por exemplo: encontrará um menino envolto em luz, com semblante de anjo, com uma auréola resplandecente na cabeça, cercado de legiões celestes. Nada disso.

O sinal é...um menino perfeitamente normal, com uma única característica: é pobre e está no meio dos pobres. Nesse nascimento já transparece em toda sua clareza a lógica de Deus. Os homens têm certeza de que o poder do mal somente pode ser vencido usando as mesmas armas: o dinheiro, a mentira, a corrupção; julgam que a violência somente pode ser eliminada com uma violência mais forte, que só se pode dar fim a uma guerra apenas com outra guerra, que um derramamento de sangue só pode ser impedido com outro derramamento de sangue.

O Evangelho da Noite de Natal, revelando-nos um Deus que escolhe a pobreza e a fraqueza, nos ensina a não acreditar na lógica da força, lógica na qual também nós cristãos muitas vezes somos tentados a acreditar. "Manifestou-se a graça de Deus"! É um grito de alegria por tudo aquilo que Deus já cumpriu, enviando seu Filho ao mundo.

FELIZ E SANTO NATAL!

Dom Moacyr José Vitti CSS arcebispo metropolitano.

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