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O Evangelho de hoje narra o primeiro encontro de Cristo ressuscitado com os seus discípulos. O evangelista João nos diz que foi justamente nesse primeiro encontro que Jesus comunicou o seu Espírito aos apóstolos, mediante o gesto de soprar sobre eles. No povo de Israel estava muito difundida a ideia de que os homens praticavam o mal porque estavam possuídos por algum espírito mau e o povo perguntava: quando acabará esta triste situação? A convicção era de que só Deus poderia extirpar do homem este espírito mau e infundir-lhe um espírito bom. Cada um de nós passa pela experiência do espírito mau dentro de si. É aquela força que nos impele à embriaguês, à prostituição, ao adultério, ao roubo.

Na Carta aos Romanos São Paulo apresenta uma descrição dramática desta triste situação do homem; "Não consigo entender nem mesmo o que faço: de fato, não faço o que quero, mas faço o que detesto. De fato, sei que em mim, ou seja, na minha carne, não é o bem que habita; há em mim um anseio do bem, mas não a capacidade de efetuá-lo; pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero" ( Rm 7,15-19). E quando Deus arrancará do nosso coração este espírito mau?Quando estaremos plenamente animados pelo Espírito de Deus que nos impele a amar o irmão, a perdoar, à prática do bem, à colaboração? Segundo o que nos ensinam inúmeros textos do Novo Testamento, nós acreditamos que esta transformação interior é operada pelo Batismo.

Entretanto, quem dentre nós pode afirmar ter passado por essa experiência? Quem sente este impulso íntimo e irresistível para viver como Cristo? Quem se "revestiu de Cristo" a ponto de poder dizer? Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim? (Gl 2,20). Ao examinarmos nossa vida, provavelmente temos que admitir que praticamos injustiças, que temos ódios, que nos deixamos dominar pelo mal... mais ou menos como antes do Batismo. E então? Com certeza que,  se de nosso Batismo esperávamos uma transformação imediata, milagrosa, retumbante, só poderíamos mesmo constatar a nossa desilusão. O Espírito, porém,  não age deste modo. Ele se desenvolve como uma pequena semente plantada no coração do homem: cresce lentamente, sem estardalhaço, mas produz frutos abundantes.

A última frase do Evangelho nos fala do perdão do pecado O que isso quer dizer? O que destrói o pecado numa pessoa é a presença do Espírito. Quem recebeu este dom não deve, porém, guardá-lo para si, deve comunicá-lo aos outros homens. Onde o Espírito entra, o pecado é destruído. Mas tem a Igreja também o poder de não perdoar os pecados? Não! A Igreja recebeu um único poder: o de aniquilar os pecados. O sentido da segunda parte da frase do Ressuscitado é o seguinte: a Igreja deve criar as condições para que o Espírito entre no coração de todos os homens.

É evidente que, em quem não chega este Espírito, o pecado continua existindo. As palavras de Jesus são, pois, um apelo à responsabilidade de todos os cristãos. Todos os discípulos de Cristo devem estar conscientes de que os pecados não serão apagados se eles não se comprometerem a criar condições, a fim de que todas as pessoas abram o próprio coração à ação do Espírito.

Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano

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