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"Todo quarto domingo depois da Páscoa é conhecido como o "Domingo do Bom Pastor" porque na sua celebração, todos os anos, a Liturgia propõe uma passagem do evangelista João no qual Jesus se apresenta como o "verdadeiro Pastor". Quando falamos de Jesus como " Bom Pastor", a primeira imagem que nos ocorre é a do Mestre carregando nos ombros ou nos braços uma ovelhinha. É verdade: Jesus é também bom pastor, no sentido de que vai em busca da ovelha desgarrada; mas essa é a reprodução da parábola que se encontra no evangelho de Lucas (Lc 15,4-8). O " Bom Pastor" do qual nos fala o Evangelho de João não tem nada a ver com essa imagem meiga e suave. Jesus não se apresenta como aquele que acaricia com ternura a ovelha ferida, mas como um homem enérgico, robusto e decidido que luta contra os bandidos e contra os animais selvagens. Jesus é o " bom pastor" porque não tem medo de lutar, a ponto de dar a própria vida pelo rebanho que ama.

A primeira afirmação de Jesus é muito enérgica: "as minhas ovelhas" diz Ele, jamais hão de perecer e ninguém as roubará de minha mão". A salvação delas está garantida, não pela sua docilidade, pela sua fidelidade, mas pela iniciativa, pela coragem, pelo amor do Senhor. O amor de Jesus é gratuito e incondicional. Esta é grande mensagem! Esta é a Boa Nova que nos vem da Páscoa e que cada cristão deve anunciar a todos os homens. Também para aquele que fez tudo errado na vida ele deve dizer: as tuas fraquezas, as tuas misérias, as tuas escolhas de morte não conseguem derrotar o amor de Cristo. Como alguém se torna membro do rebanho que segue a Jesus? O que acontece com as ovelhas que lhe são fiéis? O Evangelho deste dia nos revela que a iniciativa de segui-lo não é nossa; É Ele que nos chama: As minhas ovelhas escutam a minha voz e Eu as conheço e elas me seguem. Os discípulos de Jesus vivem neste mundo, moram no meio dos homens, ouvem muitos apelos e recebem muitas mensagens enganosas. São muitos os que se apresentam como " pastores", que prometem vida, conforto, felicidade e convidam para segui-los. É fácil cair no engodo dos charlatães. Como conseguir identificar, entre tantas vozes, aquela do " verdadeiro pastor"? É preciso apurar os ouvidos.

Quem só escuta durante cinco minutos uma pessoa,  e depois não ouve mais a sua voz durante um ano inteiro, dificilmente conseguirá identificar a sua voz no meio de uma multidão. Quem escuta o evangelho uma única vez durante um ano, não aprende a distinguir a voz do Senhor que fala. Perguntemos à nossa consciência: o que aconteceu quando seguimos outras vozes? Quais foram as conseqüências para nossa vida quando nos deixamos dominar pela concupiscência, pelo orgulho, pela vaidade, pelo rancor, pela ganância dos bens materiais? Conquis­tamos a vida ou a morte? Não é fácil confiar em Jesus, pois Ele não promete sucessos, triunfos, vitórias, como ao invés todos os outros pastores fazem.

Exige o dom de si mesmo, a renuncia à busca desenfreada do próprio interesse, pede o sacrifício da própria vida em favor dos irmãos. Garante-nos, porém, que este é o único caminho que conduz à "vida eterna". Não há atalhos: quem indica outros caminhos está trapaceando e quer conduzir à perdição. Em quais pastores confiamos? Como podemos identificar hoje a voz do "verdadeiro pastor"? São os bispos, os sacerdotes, os catequistas? Só eles? Não será também "bom pastor" quem ensina às outras pessoas a mensagem de Cristo: os pais, os mestres, os colegas sinceros na escola, os companheiros do trabalho que se comportam com honestidade, a mãe, marcada pela forte dor e pelas angústias, que tudo suporta com paciência e com amor, o pai que educa o filho para o perdão, para a reconciliação, para a partilha?

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano

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