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Os habitantes de Nazaré e os seus próprios parentes não acreditaram em Jesus. Os evangelistas Mateus e Marcos colocam essa rejeição no fim da pregação da Galiléia. Lucas, ao invés, a antecipa para o início da vida pública. Lucas insiste para que seus discípulos entendam que o conflito e a perseguição acompanham todos os instantes da vida do profeta. O trecho de hoje deve, portanto, ser interpretado como o prelúdio que apresenta o destino do Mestre e anuncia o drama da sua morte na cruz.

É fácil, com efeito, perceber que a expressão "Médico, cura-te a ti mesmo" alude à zombaria da que foi alvo aos pés da cruz: "Salvou os outros, salve-se, pois a si mesmo" (Lc 23,35). Da mesma forma a tentativa de linchamento que aconteceu em Nazaré tem um paralelo na cena da paixão quando Jesus foi conduzido para fora da cidade a ser crucificado. Os motivos que levaram a assembleia, reunida na sinagoga, a uma reação violenta são os mesmos que durante toda a vida pública de Jesus causarão discussões permanentes, tensões, conflitos.

Os seus adversários se recusam a aceitá-lo porque se sentem perturbados pela sua mensagem, pela sua interpretação da palavra de Deus. São também as mesmas razões que conduzem a rejeitar Jesus e seus profetas também em nossos dias. O primeiro desses motivos: conhecem-no muito bem. "É o filho de José" – dizem. "Não ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tia­go, de José, de Judas, de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs?" E ficaram perplexos a seu respeito. Tendo convicção de conhecerem plenamente os seus conterrâneos, em verdade nada sabem sobre Ele.

Assemelham-se a muitos cristãos dos nossos dias os quais, tendo concluído a catequese de preparação para a primeira Euca­ristia e a Crisma, não mais participam dos cursos de evangelização, não se esforçam por conhecer mais a fundo a própria fé, não frequentam as reuniões onde se debatem problemas eclesiais. Se tomam conhecimento de uma nova interpretação de alguma passagem do Evangelho, reagem, às vezes, com irritação: julgando conhecer tudo sobre Jesus, ignoram sua própria identidade. O segundo motivo que provoca revolta dos conterrâneos de Jesus é que Ele não realiza milagres na sua cidade. Se é o Messias, então que se manifeste com gestos extraordinários, como fez Moisés! Estão na expectativa de "um filho de Deus!".

E eis que se defrontam com "o filho do carpinteiro"! Para que servem suas palavras sábias se não dá provas de sua autoridade por meio de milagres? Questio­nemos a nós mesmos: o que é que nos move a recorrermos a Jesus? Por que frequentamos a Igreja? Para ouvir sua palavra ou sobretudo, porque queremos alcançar alguma graça especial? Quando há problemas na família, quando estamos doentes, quando não chove, quando lutamos para conseguir um bom emprego... então intensificamos nossas orações. Se a graça nos é concedida, afastamo-nos de Jesus, como fizeram os habitantes de Nazaré. Ape­lamos para os bruxos, para os astrólogos, para os membros das seitas religiosas. Quando nos convenceremos de que nossas igrejas e capelas não são bazares onde se podem "comprar milagres", mas lugares onde se "escuta a Palavra?".

Dom Moacyr José Vitti CSS arcebispo metropolitano

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