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O Evangelho de hoje começa apresentando-nos não um samaritano, mas um judeu, não um pecador, mas um justo. Certo dia um doutor da Lei pergunta a Jesus. O que devo fazer para conquistar a vida eterna? Segundo a praxe das discussões teológicas, o rabino não dá imediatamente uma resposta direta, mas deve, por sua vez, formular uma pergunta. Jesus pergunta: o que está escrito na lei? Prontamente o doutor da lei cita dois textos bíblicos.

O primeiro, muito conhecido, proclamado todos os dias pelo israelita devoto na oração da manhã e da noite; é o seguinte: "Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda tua alma, com todas as tuas forças" (Dt 6,5); o segundo, sobre o qual se insistia menos, é extraído do livro do Levítico:" e o próximo como a ti mesmo" (Lv 19,18). Resposta perfeita! O próprio Jesus o reconhece. Tudo encerrado, então? O doutor judeu foi enaltecido, e o coitado do samaritano reprovado? Se o julgamento de Deus se limitasse ao conhecimento mais ou menos perfeito de uma doutrina, a sentença estaria definida.

"Jesus, porém, depois do elogio: "respondeste bem", acrescenta logo em seguida: "Faze isto e viverás". "Faze". Conhecer não é suficiente. O doutor  da lei tem mais uma dúvida: "Quem é o meu próximo". Está até disposto a fazer, mas sem exagerar! Quer definir claramente até onde se deva chagar com o amor. Discutia-se entre os rabinos, quem deveria ser considerado "próximo".

Alguns diziam que só os filhos de Abraão deveriam ser amados; outros estendiam este amor também aos estrangeiros que estivessem residindo há muito tempo na terra de Israel. Todos, porém, concordavam em afirmar que os povos distantes principalmente os inimigos não deviam ser considerados " próximo". Jesus não dá nenhuma importância a esta dúvida cultural do doutor da lei. Nem mesmo lhe responde, pois para ele a pergunta não tem sentido; para Ele não existe barreiras entre os homens. O problema não é saber até onde se deva chegar o amor, mas como ele se manifesta e quem  de fato ama a Deus e ao irmão. É agora que os dois, o judeu e o samaritano são chamados para um novo exame, o mais importante, aliás, o único que conta.

Mas aí vem a surpresa: agora as perguntas já não serão teóricas; mas prática não será feita uma avaliação da mente, mas do coração; não um papo furado, mas os fatos. Um homem – assim conta Jesus – caiu nas mãos de salteadores que o despojaram e, depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Casual­­mente, desciam pelo mesmo caminho um sacerdote e um levita. O que fizeram? "Desceram pelo mesmo caminho, viram... mas passaram adiante, do outro lado da estrada".

Eis que aparece um samaritano: "Viu-o, moveu-se de compaixão, aproximou-se, atou-lhe as feridas, derramou neles azeite e vinho, em seguida colocou-o sobre a sua própria montaria, levou-o a uma hospedaria e tratou- dele. As últimas palavras de Jesus ao doutor da lei resumem a mensagem de toda a parábola: "vai e faze tu o mesmo!" "Faze de quem está perto de ti o teu próximo" e terás como recompensa a vida eterna!

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano

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