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A tentação não é uma coisa ruim, é um momento de verificação a respeito da solidez das nossas escolhas. Foram tentados os grandes personagens dos quais nos fala a Bíblia: Adão, Abraão, Jó. Os Evangelhos nos contam que também Jesus teve que enfrentar, no início da sua vida pública, as tentações. A primeira tentação foi a do pão. Como o povo de Israel, Jesus foi conduzido ao deserto, lá permaneceu por 40 dias, que lembram os 40 anos passados pelos israelitas no Sinai, e, como eles, sente fome. Com esta primeira tentação, o evangelista Mateus, quer nos dizer que, durante a sua vida, Jesus foi tentado a reduzir a sua missão e a salvação do homem ao aumento da produção dos bens materiais.

O alimento é muito importante, sem pão não se pode viver. Nós mesmos – disse Jesus – seremos julgados pelo pão distribuído ou negado a quem tinha fome (Mt 25,31-46). Todavia a vida do homem não depende somente do pão ou dos bens materiais. Respondendo ao tentador, Jesus afirma que "nem só de pão vive o homem". Se não se alimentar do outro pão que é a palavra de Deus, não conseguirá jamais a verdadeira alegria e paz. A segunda tentação: a dos sinais. O povo de Israel no deserto tentou a Deus. Quando teve fome e sede, desafiou-o para verificar se de fato o amava; submeteu-o à prova pedindo-lhe para fazer brotar água e fazer cair o pão do céu.

Os israelitas exigiam sempre novas provas da sua presença e do seu amor. Diferentemente deste povo, Jesus se recusa a pedir sinais. Ele não precisa de provas para acreditar que o Pai o ama e que está permanentemente ao seu lado. Talvez não fuja da percepção, mas nós cedemos a esta tentação toda vez que exigimos de Deus sinais do seu amor. Ao dizermos Senhor, se me amas, ajuda-me a encontrar um bom emprego, ajuda-me a conseguir bom resultado nos exames, restitui a saúde a meu avô... Aí o milagre não acontece e eis que nossa fé vacila, julgamos que Deus não nos ama, duvidamos até que Ele exista. Não podemos pedir a Deus que nos livre (na base do milagre) de todas as dificuldades. Temos que pedir-lhe, isto sim, que em qualquer situação, agradável ou triste, nos conceda a luz e a força para sairmos vencedores, isto é, mais amadurecidos, mais pessoas humanas. A terceira tentação: a do poder, da adoração àquilo que não é Deus.

O povo de Israel no deserto, a certa altura, se cansa do seu Deus e adora um bezerro de ouro: ídolo material, obra das mãos do homem. Jesus não aceita inclinar-se diante de ídolo algum: não se deixa seduzir pelo poder político, pelo dinheiro, pela força das armas, pela amizade dos grandes deste mundo, pela ganância de sucesso. Ele ouve sempre e somente a voz do Pai. Muitos de nós fazemos a pergunta: Por que Jesus não aceitou as propostas do Diabo? Por que deixa escapar das mãos a ocasião de assumir o poder político e instaurar relações de lealdade e justiça entre todos os homens e todos os povos? Jesus recusa a proposta: é contrária ao projeto do Pai, é diabólica, porque é diabólica qualquer forma de autoridade que se traduza em domínio, poder, prevaricação, opressão, imposição das próprias idéias e da própria vontade e que não respeite a liberdade do homem.

Todos nós pessoalmente, sempre estamos sujeitos a esta tentação de escolher o deus poderoso, o deus que concede o domínio sobre os demais, o deus que nos dá muita fama, muitos títulos honrosos, muitos empregados, muitos que nos beijam a mão, que nos reverenciam... Quem oferece estas coisas não é Deus, é Satanás. O Evangelho, ao mostrar-nos Jesus sendo tentado, quer nos conduzir à reflexão sobre as nossas tentações que não são diferentes das suas.

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