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Todos nós com certeza vimos alguns daqueles quadros antigos que representam Cristo como rei. Em geral a sua figura aparece como a de um homem com o rosto severo, sentado num trono. Ao seu lado postam-se alguns anjos (eles mesmos muito tensos e preocupados), prontos a intervir a qualquer aceno. Parecem seus guarda-costas. É evidente que esses pintores idealizaram Jesus como um rei deste mundo, como um personagem importante que todos devem respeitar temer, a quem devem obedecer e diante do qual é preciso prostrar-se. Essa maneira de interpretar a realeza de Cristo infelizmente penetrou muito profundamente na mentalidade de muitos cristãos. Ao longo dos séculos confundiu-se o Reino de Cristo com reinos deste mundo.

Às vezes identificou-se os triunfos de Cristo com o daqueles que se diziam seus representantes na Terra. Resultou uma imagem triunfalista da Igreja, competindo com os outros chefes das nações. É nesse sentido que Cristo é Rei? Tudo isso está em confronto com a escolha de Jesus que nunca foi a de se colocar-se em primeiro lugar para ser servido, mas a de prostrar-se diante do homem para lavar-lhe os pés e servi-lo. Ele reagiu energicamente contra aqueles que pretenderam fazê-lo aceitar uma realeza deste mundo. Ele frustrou as expectativas messiânicas dos seus discípulos. Fugiu quando o povo queria proclamá-lo rei. Por que, então, na presença de Pilatos, quando está com suas horas contadas, afirma categoricamente que veio para este mundo justamente para ser rei? O evangelho de hoje descreve cuidadosamente a cena. Jesus está entregue nas mãos da autoridade romana, está sozinho, desarmado, não tem soldados que o possam defender.

É um prisioneiro, abandonado até pelos próprios amigos, está sendo esbofeteado, vipendiado. Certamente não está em condições de constituir-se em perigo para o poder de Roma. Não existe a mínima possibilidade de equívoco: agora, quando Ele está derrotado, proclama: "Eu sou Rei". Pilatos só conhece os reinos deste mundo, nos quais os chefes são poderosos, dominadores, autoritários e contam com súditos obedientes e submissos. Não consegue entender do que Jesus esteja falando. O Mestre acorre em sua ajuda: "O meu reino não é deste mundo" O que quer dizer? Talvez que o seu reino está instalado no outro mundo, no paraíso?Talvez que o seu reino é puramente espiritual? Que não tem nada a ver com as realidades terrenas? Essa seria uma interpretação muito errônea das suas palavras.

O seu reino está sendo instaurado aqui e agora, solidifica-se entre os habitantes  desta terra. Não obstante, porém, "não é deste mundo". A festa de Cristo Rei pode facilmente ser interpretada de uma forma ambígua; pode até mesmo ser apresentada no sentido contrário daquilo que ela significa. É fundamental esclarecer que a realeza de Cristo é exatamente o oposto da realeza deste mundo. O Reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em prol do irmão, onde cresce o respeito pelos outros, o encontro, o diálogo, onde se estabelecem relações novas entre os homens e as nações.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano

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