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O evangelho deste domin­go apresenta o seguinte episódio: os irmãos Tiago e João, discípulos de Jesus, se apresentam a Ele e ousadamente, na frente de todos, sem qualquer recato, lhe dizem: "Mestre, nós queremos que nos concedas tudo o que te pedimos!". Não pe­­dem nem sequer "por favor,", mas exigem: " nós queremos" – afirmam – nós temos certeza que, no Rei­­no que estás para fundar, os primeiros lugares cabem a nós. Jesus lhes responde: "Vós não sabeis o que pedis. Sabeis que os que são con­­siderados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. Entre vós, porém, não será assim".

"O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir." O modelo a ser seguido, ensina Jesus, é do servo que ocupa o nível mais baixo da sociedade, a quem todos podem dar ordens. Da mesma forma que o servo sempre está de prontidão, dia e noite, atento aos desejos do seu senhor, assim também quem exerce o ministério da presidência na comunidade, deve considerar a todos como seus superiores, deve sentir-se o último e o servo de todos. Jesus pede que os discípulos considerem as atitudes das autoridades que eles conhecem.

Há vários tipos: chefes religiosos, escribas, sacerdotes do templo e ainda chefes políticos. Todos exercem o poder segundo os mesmos métodos: dão ordens, exigem privilégios, querem ser saudados segundo as normas do cerimonial: é preciso prostrar-se diante deles, beijar-lhes as mãos, dirigir-se a eles com toda a deferência, citando os títulos honoríficos classificados e apropriados para cada cargo e prestígio de cada um. O Mestre não quer deixar dúvidas, incertezas, perplexidades sobre esse ponto: nenhuma autoridade desse tipo pode servir de modelo.

Para completar o quadro podemos elencar outras atitudes que foram condenadas severamente por Jesus, atitudes diante das quais qualquer pessoa deve sentir uma aversão instintiva: apresentar-se com ostentação, querer aparecer, andar com roupas luxuosas especiais, com pomposas condecorações para destacar-se dentre os outros, pretende posições de destaque nas festas, exigir os títulos grandiosos. O trecho do evangelho e hoje não diz respeito somente aos que ocupam cargos de responsabilidade, mas se destina a todos os discípulos. Todos os que querem seguir o Mestre devem comportar-se como "servos".

O marido e a mulher que não se consideram servos um do outro, o professor que não exerce o seu magistério como servidor dos seus alunos, o médico que não trata os seus doentes como superiores aos quais deve servir o comerciante que só visa ao próprio interesse em vez de preocupar-se para que seus clientes fiquem satisfeitos com a mercadoria e com os preços... Quem segue esta linha de comportamento, embora frequente sistematicamente a comunidade, ainda não entendeu o que representa seguir aquele que se fez servo de todos: Jesus de Nazaré.

O lugar na glória é um dom gratuito do Pai: não é uma realidade que possa ser conquistada apresentando merecimentos. Os discípulos se equivocam imaginando o Reino de Deus segundo o modelo dos reinos deste mundo, nos quais a escalada para os primeiros lugares. Não conseguem entender que, perante Deus, não é possível apresentar pretensões baseando-se em boas obras: de Deus recebemos sempre e somente dons.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano

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