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Jesus deve corrigir a idéia equivocada que o povo formou a respeito dele e, por isso, na parte central do evangelho deste domingo, repete por três vezes o anúncio de sua morte e ressurreição e toda às vezes acrescenta que também os discípulos são convocados a partilhar da sua sorte e a segui-lo no dom de si mesmos. O trecho de hoje começa apresentando-nos o segundo desses anúncios e é acompanhado por uma observação do evangelista: os discípulos "não entendiam estas palavras e tinham medo de pedir-lhe explicações".

É fácil entender a razão dessa incompreensão: o tipo de Messias anunciado por Jesus está muito longe daquele imaginado por eles, está em oposição a todas as sua lógicas. Não devem causar surpresa que não entendam, nem mesmo depois de ter ouvido pela segunda vez o mesmo discurso. O que causa estranheza, ao invés, é a observação: eles não tinham coragem de fazer-lhe qualquer pergunta. Provavelmente devem ter percebido que se trata de um assunto muito sério: devem ter entendido que, sobre determinados pontos Jesus não brinca, é intransigente, dá respostas duras, não aceita ser contrariado ou aconselhado.

Esse receio dos Apóstolos representa a perplexidade que inevitavelmente toma conta de qualquer um que queira defrontar-se lealmente com Cristo e com o seu evangelho. Quando Ele revela a sua face de "servo" que dá a sua vida e acrescenta a exigência de seguir seus passos, não é possível não sentir medo. É necessária muita coragem para olhá-lo de frente, para fazer-lhe pergunta e para ouvir, para entender perfeitamente quem é Ele e o que exige.

Preferimos recitar preces, participar de funções religiosas do que parar para meditar sobre algum trecho do evangelho. As práticas de devoção nos permitem manter os nossos pontos de vista, as nossas idéias, os nossos hábitos, ao passo que a Palavra de Deus deixa ás claras qualquer fraqueza, qualquer miséria; chama para a conversão, exige mudanças de mentalidade e de atitudes. Na segunda parte do evangelho de hoje, os Apóstolos discutem entre si "quem entre nós será o primeiro". Há problemas que o evangelho não trata diretamente, mas sobre assunto "primeiros lugares" Jesus se manifestou com uma transparência absoluta: "Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos".

Talvez para evitar que surgissem dúvidas, os evangelhos repetem por três vezes estas palavras do Mestre. Há quem tente justificar a existência de classes, de direitos a títulos honoríficos, de lugares reservados no seio da comunidade cristã, tomando como ponto de referência à sociedade civil, a estrutura do Estado, as tradições do próprio povo. A nossa cultura exige que, quem detém o poder, imponha a sua vontade e receba as honrarias e os privilégios próprios do seu cargo.

Jesus, porém, rejeitou explicitamente nesta referência: "Entre vós não deve ser assim" (Lc 22,26). Não ocultemos nossos pecados sob o manto do respeito pela cultura, pelas conveniências sociais do próprio povo! Na comunidade quem ocupa o primeiro lugar deve abandonar qualquer sonho de grandeza. A comunidade não é o lugar apropriado para alcançar posições de prestígio, para manter domínio sobre os outros, para impor-se. É o lugar onde cada um, conforme os dons recebidos de Deus deve celebrar a própria grandeza, servindo os irmãos.

Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano

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