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O evangelista Lucas começa a narração da vida pública de Jesus com uma longa introdução, na qual apresenta os chefes políticos e religiosos da época. Relata: "Era o décimo quinto ano do império de Tibério". Trata-se de uma referência cronológica importante, pois permite situar o início da vida pública de Jesus nos anos 28/29 d. C. A esta primeira indicação o evangelista acrescenta outras: os nomes dos governadores da Palestina e dos territórios vizinhos e os dos sumos sacerdotes Anás e Caifás. O enquadramento histórico é específico: Lucas quer deixar bem claro para todos que não está iniciando a narração de uma fábula, de um mito criado pela fantasia e pela imaginação fértil de algum sonhador.

Ele relata fatos concretos. A intervenção de Deus na história da humanidade aconteceu num momento e num lugar bem definidos. Ponhamos a nós mesmos estas questões: a mensagem que anunciamos, a religião que praticamos estão "encarnadas" no contexto cultural e político no qual vivemos? Dirigem-se ao homem concreto, leva em conta a realidade social do nosso povo e da nossa nação ou flutuam no ar, longe da concretude dos problemas reais? Que influência exerce a fé em nossas atitudes no campo profissional, na escola, nas áreas de lazer, nas nossas práticas comerciais, na nossa vida conjugal e familiar? É a pessoa inteira, é cada instante da vida que devem ser alcançadas pela salvação operada por Cristo. É esta sociedade, esta comunidade, esta família, este homem concreto, que devem ser transformados.

Conforme o plano de Deus é só essa religião, portanto, que transforma este mundo, que gera relações novas entre as pessoas, que faz brotar paz, amor, partilha nos lugares aonde impera o egoísmo e a injustiça, que faz surgi novas condições de vida aqui e agora. Depois da introdução histórica, Lucas, numa linguagem muito solene, faz entrar João Batista: "A palavra de Deus desceu sobre João filho de Zacarias, no deserto". A missão do Batista se resume em poucas palavras: "Ele percorria toda a região do Jordão". É este o território de fronteira que foi escolhido pelo Batista para sua missão. No rito do batismo que ele administra ele quer que cada um repita o gesto de entrar, através do Rio Jordão, na terra da liberdade. Quer preparar um povo disposto a acolher a salvação de Deus, a entrar na verdadeira Terra Prometida. Por isso pede a todos que mudem o modo de pensar e viver.

O Messias – anuncia ele – já está próximo, destruirá os perversos e salvará só aqueles que, tendo abandonado o caminho do pecado, percorrer um novo caminho. Para esclarecer melhor a missão que João é chamado a cumprir, Lucas introduz uma frase do profeta Isaías: "Voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado e todo monte e outeiro serão arrasados... Todo homem verá a Salvação de Deus". Esta última afirmação tem um significado especial. Lucas a coloca no início do seu Evangelho escolhe-a quase como título da sua obra, pois contém uma declaração solene de Deus: Ele não reserva a sua salvação para algumas pessoas privilegiadas, mas quer que seja oferecida para todos os homens. Nin­guém será excluído! Este é o seu projeto e é difícil imaginar que Ele não consiga realizá-lo.

Tenhamos a coragem de questionar a nós mesmos: não podem acontecer às vezes que também nas nossas comunidades são tolerados alguns "caminhos tortuosos", algumas atitudes ambíguas? Não há, por acaso, "montanhas" que impedem, especialmente aos mais débeis, aos que têm uma fé mais fraca, de caminhar ao encontro de Jesus? Não há, por acaso,  "vales" que separam irmãos de uma mesma família? Quais são as "montanhas" que devem ser aplainadas e os "vales" que devem ser aterrados na nossa vida?

Dom Moacyr José Vitti CSS arcebispo metropolitano

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