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Esta semana saiu o Panorama Global da Biodiversidade editado pela ONU. Está na hora de tomarmos vergonha na cara.

Não digo isso pela situação catastrófica mostrada pelo Panorama, que qualquer aluno do fundamental poderia repetir como papagaio, talvez a única espécie longe da extinção (os alunos palradores, não as aves).

Em 1992 juntaram um monte de gente no Rio para dizer que o mundo ia acabar se não fizéssemos nada. Em 1997 foi a mesma coisa em Kyoto, e lá até prometeram fazer algo, mas após 13 anos a curva de acréscimo de carbono nem mexeu. Minto. Mexeu sim, acelerou. Em 2002 uma cúpula na África do Sul assumiu o compromisso de reverter a extinção de espécies em 2010. Em 2009 mais uma vez em Copenhague. Não tiveram nem coragem de posar para a foto, para evitar ser alvo de jogo de dardos.

O termo da moda agora é REDD que significa pagar para não destruir. Lindíssimo, não? Falta só combinar quem paga. Alguém aí se habilita?

As altas rodas da conservação são análogas à indústria da seca nordestina: geram pobreza e mais seca. Ajudariam mais não existindo.

Em 2002 fui convidado para uma convenção de um braço da ONU na Cidade do México, em um hotel caríssimo. Três diárias neste hotel eram suficientes para pagar bolsa de dois orientados por um ano. Qual o resultado dessa reunião? Alguma coisa mudou em algum lugar? Alguém viu algo? O dinheiro, o combustível e a água gastos nessa reunião poderiam ter mudado, senão muito, ao menos alguma coisinha em algum canto do mundo.

Meu amigo Stuart Pimm, consultor do Senado norte-americano, professor da Univer­­sidade de Duke e participante de tudo em todos lugares (quase ao mesmo tempo), tem seu projeto mais querido em uma pequena restauração da Mata Atlântica no Rio de Janeiro, talvez pela desconfiança que seus projetos maiores possam ser etéreos demais.

A estratégia de cima para baixo é boa para quem está no topo, dá uma boa sensação de poder, mas resultados... Ora, o que são resultados comparados ao poder?

As coisas que realmente funcionam nascem de baixo para cima, em uma expressão que se chama em inglês de grassroot, parecidas com a raiz de grama, que do quase nada somado com outro quase nada e mais outro acabam virando tudo.

Como o Níger, com sua pobreza, conseguiu esverdear o deserto na década de 90? Como a Índia conseguia coletar chuva das monções para passar o ano? Como a agricultura do Egito e da Indonésia se mantiveram por milhares de anos? Precisaram de convenções ou acordos?

Se extinguirmos os altos conselhos ambientais talvez consigamos tomar a realidade em nossas mãos e pararmos de projetar esperanças em um grupo bem remunerado demais para mudar a realidade.

Há algo de importante acontecendo quando até mesmo o diretor do "circo" pede por mais realidade.

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