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Datas comemorativas são inúteis, às vezes hipócritas. O colar de pérolas no aniversário é frequentemente mais resultado da culpa pela falta de pérolas durante o ano do que de amor, e o mesmo vale para a esfera pública.

As datas comemorativas são a lista de coisas de que não cuidamos. Ambiente, mulheres, negros, professores, crianças, mães. Pobre de você se há uma data em sua homenagem.

Nesse último dia do ambiente consegui evitar os vários convites de palestras graciosas para atenuar a culpa alheia por todo um ano de consumismo. Foi uma economia de tempo próprio e alheio.

Consegui me esquecer da data mesmo com a caixa do supermercado Mufatto me confirmando que não havia saquinhos plásticos. Em alguns segundos me lembrei da briga toda por esse ícone consumista e achei que eles já haviam adiantado o futuro.

– Não sei por que, mas hoje não tem saquinho, disse a caixa, que para minha inveja parecia desconhecer o Dia do Ambiente.

No entanto, funcionários carregavam uma enormidade de caixas de papelão pelo supermercado e punham nos caixas para que as pessoas levassem suas compras. O que aconteceu de fato, se a caixa não sabia do que se tratava e se foram trocados finos sacos plásticos por pesadas caixas de papelão, que já estavam prontas para reciclagem e agora jazem dispersas pelas casas da cidade? Infe­lizmente, o supermercado ainda não pode, sob pena de falir, dizer para seus clientes que as mercadorias passam a ser suas ao pagar por elas e essa responsabilidade inclui seu transporte. Diante do impasse entre a falta de interesse dos clientes e a necessidade de comemorar o 5 de junho, o resultado líquido foi a diáspora das caixas de papelão.

Não há data comemorativa que resolva o impasse entre a mão invisível do mercado e a natureza, porque enquanto puder essa mão irá tirar da natureza para mimar o cliente. Cabe ao governo limitar até onde a mão boba do mercado poderá avançar. Alternativamente, poderíamos esperar que as pessoas escolham melhor, mas isso pode demorar tanto, que a natureza acabe antes – e o mercado também, já que ele não existe sem ela.

Para dirimir quaisquer dúvidas, meu interesse sobre os saquinhos era só para ter assunto para essa coluna semanal. Estava eu neste dia com minhas sacolas de compras, que quase sempre têm levado minhas compras para casa. Quando esqueço, carrego as compras na mão. Isso tem me estimulado bastante a não esquecer mais a sacola de compras. Esse é um exercício para ser feito 365 dias por ano.

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