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O Natal é este momento mágico em que um amontoado de lata, vidro e plástico me levará para um lugar onde vou entupir-me de comida e tentar esquecer um trabalho repetitivo no qual gastei mais um ano piorando o planeta de todos.

Não sendo suficiente, vamos colocar nosso som no último volume para que o mundo inteiro ouça esta melodia pobre, medieval, em alguns casos até tribal que é do agrado de todos.

No dia seguinte talvez compraremos os restos mortais de bovinos flatulentos, produtores de uma enormidade de metano. Sentirei-me um grande caçador ao colocar essa carne para assar em restos calcinados de floresta. Ingerirei esse alimento hiper proteico para aumentar ainda mais minha sedentária barriga.

Darei presentes comprados por obrigação e receberei presentes que não gosto e não preciso. De toda forma tudo estará no lixão em pouco tempo. Esquecerei os presentes, mas não a poluição causada por eles, que me acompanhará pelo resto de meus dias.

Como muitas pessoas fazem igual a mim, qualquer trajeto, mesmo pequeno, demorará uma eternidade, estressando todos e consumindo muito mais combustível que o necessário.

Meus excrementos se unirão aos de todos os outros de minha horda e, neste local sem saneamento, línguas negras de fezes empestearão o solo, ar e água. Em alguns casos, minha consciência estará tranquila porque paguei para que um grande tubo leve a porcaria toda para o meio do mar. De vez em quando, como em Ipanema, a coisa toda voltará para a terra. Em outros momentos a porcaria ficará lá pelo mar e minha reduzida capacidade de abstração me levará a crer que está tudo bem.

Nem mesmo os seres que vivem dentro da areia estarão a salvo. Eu usarei um tubo para extrair as pobres criaturas e usá-las para pescar um peixe qualquer que preencha a sensação de vazio trazida por 360 dias de trabalho entre quatro paredes.

Será comum também que esta acumulação de gente em locais com rede precária acabe com a água. Ficar sem água e em meio a excrementos humanos é menos importante para mim do que passar as festas de fim de ano em um lugar chique. Epidemias de diarreia, conjuntivite e até doenças de chagas trazidos na cana não me importam.

Tudo isso me custa muito mais do que poderia pagar, mas o mais importante é aparentar que sou rico. Quero impressionar pelo que tenho, não pelo que sou ou pelo que posso fazer. Ao fim deixaremos de novo vazias estas residências de veraneio para assim ficarem até o ano que vem.

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