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Passei a semana pensando na pergunta do ator Jude Law:

"O que tem na água deste país? São as mulheres mais lindas do mundo".

Uma das respostas que me ocorreu é que há tanto hormônio em nossa água que algumas das mulheres que ele viu talvez sejam homens. Ainda não chegamos a este ponto, mas para alguns animais que vivem na água a coisa está mais séria.

Há 20 anos foram descobertos jacarés com anormalidades no pênis. Os casos mais divulgados são da ocorrência de pênis diminutos no lago Apopka, mas há também casos de pênis enormes no lago Woodruff (ambos na Flórida). Estes não foram tão noticiados, talvez pelo receio de que muitas pessoas entendessem a poluição hormonal da água como benéfica, talvez pelo receio de uma migração em massa de fêmeas de jacarés para esse lago.

Ambos casos são exemplos de má-formação congênita, resultantes de hormônios na água. Infelizmente isto não é uma ocorrência restrita ao mundo animal. Em todo o mundo as taxas de contagem de espermatozoides têm caído, assim como as meninas têm menstruado mais cedo.

Isto me lembra que há alguns anos convidei o professor Carlos Armênio, agora na USP, para dar uma palestra para meus alunos. Lá pelas tantas, ele diz para a plateia cheia de alunos de agronomia, que ele tinha maiores chances de engravidar uma menina que eles (depois explicou que no tempo dele havia menos contaminantes, mas foram alguns segundos cheios de tensão).

Afinal, o que tem na água deste país?

Em uma análise recente de águas de rios, o pesquisador Wilson Jardim encontrou concentrações de anti-flamatórios, analgésicos e bactericidas e também o vilão mais conhecido da má formação sexual, o bisfenol A. Como o tratamento de água não retira nenhuma dessas substâncias, a cada vez que essa água passa por nossas casas, aumentamos um pouco mais a concentração delas, especialmente nos rios que abastecem grandes centros, que são suas cloacas e mananciais de água.

Hormônios são chaves que deflagram processos metabólicos associados a sexualidade e, em muitos casos, substâncias similares podem deflagrar os mesmos processos, como no caso do bisfenol. Há ainda o risco inerente ao adensamento humano. Além dos problemas químicos, só porque a água de hoje é o esgoto de ontem, a cada passagem pelo corpo humano a concentração de estrogênio vai aumentando na água, mesmo que sua concentração seja da ordem de nanogramas/l. No caso de mulheres usando pílula anticoncepcional, a concentração pode ser muito maior.

É igualmente comum encontrar antibióticos na água. Os riscos aí são pela exposição contínua e ampla, selecionando espécies de micro-organismos resistentes, as "superbactérias" que resistem aos antibióticos.

Algum dos leitores pode escrever para o ator contando o que de fato existe na nossa água?

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