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Os conflitos no Oriente Médio têm vários aspectos ambientais interessantes, mesmo que o tema não esteja na pauta dos manifestantes. Em primeiro lugar, os conflitos mostram o que as pessoas podem fazer, quando querem, juntas. Mesmo mantidos sob um regime sangrento e sem acesso à educação, não há o que milhões de pessoas não consigam.

Quinhentas mil pessoas assinando uma petição contra Belo Monte fazem os tomadores de decisão vacilarem, mas 1 milhão de pessoas na Praça dos Três Poderes derrubariam o presidente se eles assim o quisessem.

Nós ocidentais, estudados e afluentes, estamos tendo uma necessária lição de participação política com aqueles vistos por muitos como fundamentalistas medievais.

O rio no fundo da sua casa cheira mal? A prefeitura vai cortar a árvore centenária? Nossos colegas do Oriente Médio agora nos ensinam que vale mais a pena sair às ruas do que reclamar para a mesa do bar. No caso de uma prefeitura, você nem precisa tanta gente. Coloque uma centena de pessoas bravas no gabinete do prefeito e ele resolverá o problema.

A internet é o meio barato e rápido para juntar pessoas que pensam igual. No tempo em que era necessário anunciar na mídia convencional, era mais complicado porque ela costumava estar nas mãos do governo. Hoje é fácil juntar pessoas que desejam o mesmo (ainda que seja mais difícil encontrar pessoas desejando o que quer que seja).

A segunda lição é sobre o resultado de grandes obras destituídas de significado social, histórico e econômico. Na Líbia, o "Grande Rio Feito pelo Homem" leva água do aquífero do Sul até Trípoli. Uma obra de 25 bilhões de dólares que apesar de ajudar os moradores de uma capital africana a tomar banho como se estivessem em Manaus, não criou oportunidades de trabalho suficientes para evitar os conflitos, assim como nenhuma das outras faraônicas implementadas por Kadafi.

E ainda pior, uma vez implantado o conflito, é muito difícil de proteger o patrimônio público, ambiental ou histórico. Vide a invasão do Iraque. Não há quem pense no bem comum enquanto a própria pele está em risco.

A lição para o Brasil é obvia. Transposições no São Francisco ou trens-bala em São Paulo são lindos, mas mudam pouco a vida das pessoas. Um trem normal ligando São Paulo ao Rio não seria algo a ser implementado com custo menor e benefício quase igual? Com a sobra, vários outros projetos importantes poderiam ver a luz do sol, como a conexão ferroviária das capitais do Nordeste.

Ao fim, o que importa são as pessoas. Grandes obras sem significado são lápides políticas para seus criadores e terminam gerando conflitos que ainda ampliam a degradação ambiental.

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