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A notícia de que, segundo uma delação premiada, o PT foi acusado de receber ilegalmente US$ 200 milhões da Petrobras; a derrota do governo na eleição para a presidência da Câmara Federal, vencida pelo deputado Eduardo Cunha; indicações questionáveis para cargos importantes; e até a convocatória para atos públicos pelo impeachment de Dilma Rousseff mostram o clima da política nacional.

A presidente, seus auxiliares diretos e seu partido parecem incapazes de gerar boas notícias. A retórica oficial convence cada vez menos – vide as quedas de aprovação da presidente em pesquisas de opinião recentes.

À medida que os acontecimentos vão se sucedendo, o governo passa cada vez mais a mensagem de estar interessado apenas no poder. Acordos políticos e concessões de cargos – temas que estão na ordem do dia, num início de mandato – são administrados tendo apenas o poder como critério, aparentemente sem preocupação com o bem comum ou com a capacidade dos indicados para desempenhar suas funções.

A população sabe que terá tempos de sacrifício pela frente, mas todos – creio eu – sabemos que este não é o maior problema. A questão está na aviltante impressão de que o povo se sacrifica para pagar pelas mazelas dos corruptos.

Membros do governo e analistas sociais procuram, desde as manifestações de 2013, uma explicação para os protestos populares. Muitos buscaram explicações apenas na conjuntura econômica, como se a população reagisse única e exclusivamente à dor no bolso. Se o povo ia às ruas, causas econômicas tinham de ser encontradas.

Não quero tirar o peso da economia e das dificuldades materiais no ânimo de cada um de nós. Mas parece-me evidente que a sensação de desagrado – e até uma raiva que se percebe em muitos momentos – não pode ser explicada apenas em termos econômicos.

Existe, no coração de todos nós, uma exigência de respeito e dignidade, que pode ser até maior do que a necessidade de conforto ou de facilidades materiais. As condições econômicas podem não ser sempre favoráveis, mas sempre existem condições para respeitar o desejo de dignidade que está no coração de cada um de nós.

Quando este desejo de dignidade não é respeitado, os movimentos sociais tendem à violência, o desejo de construção é perdido, a esperança dá lugar à raiva. Este é um dos grandes problemas que o governo tem de enfrentar, porque sem confiança, desejo de construção e capacidade de diálogo não haverá resposta eficiente à crise que está aí.

Se o governo não liderar o processo, caberá à sociedade encontrar em si a força para superar a crise.

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