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A ressaca da Copa deixou o fígado dos brasileiros sem capacidade de metabolizar as informações sobre a jornada de eventos diplomáticos reunindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul em Fortaleza para a criação de banco de fomento e fundo de socorro. Na sequência, em Brasília, o presidente da China participou de reunião com 16 países da América Latina.

Mais ou menos como ocorreu no futebol, organizamos o palco para outros brilharem. No caso, a estrela foi a China. O Brasil funcionou como bufê que cedeu local, comes e bebes para a festa alheia. Vladimir Putin queria aparecer, se mostrar enturmado, para espantar o isolamento provocado pela semi-invasão da Ucrânia. Não conseguiu superar o gigantismo de Pequim e, ainda por cima, o abatimento do avião civil malaio por míssil de fabricação russa, manejado por cães de guerra a soldo de Moscou. A Rússia e os demais coadjuvaram o protagonismo chinês no balé das relações internacionais.

O banco e o fundo lançados em Fortaleza são tijolos na muralha da China, que vai recuperando a antiquíssima posição de império do centro. Os dois grandes impérios da Antiguidade – Roma e Pequim – nunca se tocaram. Medraram, estabeleceram amplidão territorial, disseminaram cultura, idioma, tecnologia, religião. Roma feneceu e se transformou em Europa que levou o espírito de Roma ao mundo todo. Pequim sobreviveu ao tempo, mas engilhou, encolheu, perdeu a alma.

Quando se tangenciaram para valer, já nos anos 1800, a China estava séculos atrás da Europa e sucumbiu aos canhões, missionários religiosos, subordinação comercial. O fundo do poço foi a invasão japonesa, há 77 anos, que ocupou um terço do território. Para bem compreender: seria algo como o Uruguai invadir o Brasil e dominar de Porto Alegre a Brasília. O gigante se prostrou diante do anão.

A revolução de Mao Tsé-tung em 1949, milhões de mortes na coletivização forçada, a ensandecida perseguição a qualquer pensamento minimamente desalinhado com o maoísmo na "Revolução Cultural" nos anos 60. Na morte do grande timoneiro, em setembro de 1976, a China estava exangue, mas já havia se aberto para o Ocidente havia quatro anos, com a primeira visita de um presidente dos Estados Unidos.

A agitação política interna decorrente da luta pelo poder só amainou no início da década de 80, encerrada com o massacre da Praça da Paz Celestial. Dali em diante se consolidou a combinação peculiar de autoritarismo político e liberalismo econômico radical que dá face à China moderna. Democracia? Nem pensar! Negócios, da China! Para os estudiosos da política e da economia, essa receita faz o bolo crescer de modo geométrico, porém há pontos de tensão que podem fazer a coisa desandar.

A polaridade não opositiva entre a China e o Ocidente faz o futuro semelhante ao passado e, de certa forma, é adequada ao colosso asiático que hoje se conecta por todos os poros com os demais povos. O Brasil, para eles, é gigante gasoso, rico em bens primários e pobre em conhecimento e industriosidade.

Sob o acrônimo Brics não está a salvação da lavoura para o Brasil. Não nos tornamos poderosos apenas por trocar de patrão. A China não é boa e os Estados Unidos, maus. Ambos nos querem como satélites.

Trocar de amo não é libertação.

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