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Os significados de imprevisto e imprevisível são distintos. No primeiro, algum acontecimento futuro e certo poderia ser previsto e as pessoas envolvidas se prepararem para ele. Se não o fazem, são totalmente responsáveis pelas eventuais consequências nefastas. No segundo, evento futuro e incerto não susceptível a previsão. Surpresa, estupefação cabem apenas em relação às ocorrências imprevisíveis. Por óbvio, a quantidade e qualidade das informações e a capacidade analítica podem tornar o imprevisível previsível.

A queda de meteoros parecia imprevisível. Cientistas espanhóis vasculharam hemerotecas e, com base nas notícias, encontraram indicadores de que o planeta cruza regularmente a órbita desses grupos de aerólitos. Julho e fevereiro são os meses de maior precipitação de meteoritos. Eureca! O que parecia álea passa a ser previsível o bastante para a adoção de cautelas adequadas.

A previsibilidade ou imprevisibilidade também deve ser constatada tendo em consideração o agente da avaliação. Uma pessoa comum, na situação ordinária de consumidor de combustíveis, não tem informações e meios de análise para prever altas ou baixas dos preços. Quem está na posição de governante, montado sobre o panóptico do poder, tem possibilidade de saber que o custo da energia terá ciclos de alta e de baixa, havendo padrões que apontam previsivelmente o preço ao longo do tempo.

O petróleo estava caro, acima de US$ 100 o barril. Desde sempre, há períodos de barateamento. O preço escorchante pode ser a causa do preço vil em seguida. Ao valer ouro, estimula aumento de produção – como o pré-sal – e torna competitivas as fontes alternativas de energia. Além disso, se reduz o consumo. Cenário previsível que não deveria assombrar os dirigentes públicos, especialmente os superpoderosos Putin e Maduro, que posam de oniscientes e onipresentes.

Venezuela e Rússia à beira da bancarrota por causa do erro primário de imaginar que a bonança do petróleo duraria para sempre. Os seus dirigentes agiram como cigarras e humilharam as formigas, dizendo que a responsabilidade fiscal e a poupança são coisa da direita, de gente que não pensa no bem do povo. Maduro, na linha histriônica do finado Hugo Chávez, chegou a dizer que a CIA baixou o preço do petróleo no mundo para derrubar o governo socialista do século 21.

A Rússia, em sua versão czarista, avançou sobre territórios da Ucrânia. A reação da Europa e América do Norte foi quase protocolar: sanções econômicas. A conjunção das restrições comerciais com a queda do preço do petróleo formou a tempestade perfeita. A "marolinha" está se apresentando como tsunami, a ponto de o rublo ter se desvalorizado 25% num dia e os juros pagos pelo Banco Central terem chegado a 17% ao ano. Claro, Putin culpa os americanos, falando que é tudo parte de plano para vencer os russos.

Esse discurso está para lá de Marrakesh, especialmente agora que as relações entre Cuba e Estados Unidos estão se normalizando. Já era conversa para assustar criancinha com bicho-papão. Ontem, apenas tolice. Hoje, argumentação pueril que visa elidir a própria responsabilidade pelo desastre absolutamente previsível.

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