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O petróleo é nosso; ferro, manganês, urânio, esmeralda, diamante, ouro, lítio, xisto também. O mulato inzoneiro, a morena sestrosa são nossos. As fontes murmurantes são nossas. E daí? Os horrendos índices de mortes no trânsito são nossos; homicídios com armas de fogo são nossos; analfabetismo funcional é nosso; ignorância atroz em Matemática é nossa; saúde doente é nossa; cidades falidas são nossas.

A algazarra do "é nosso" deixa em aberto quem é o titular desse pronome possessivo. Quem está incluso no "nós"? De qualquer modo alguém, um "eu", verbera o "nós". Esse alguém tem legitimidade para falar por todos? Recebeu procuração para representar os pensamentos e interesses da multidão de brasileiros?

O berço esplêndido não levou a civilização pré-colombiana a sair da Idade da Pedra. A montanha de prata em Potosí de nada serviu aos silvícolas e também aos ibéricos que a trocaram por bens industrializados pelos ingleses. Uns dormitaram sobre a prata; outros a transportaram como formigas. Os ilhéus, que não tinham um grama no solo, mas aprenderam a dominar a natureza para gerar energia, máquinas, navios, sistemas financeiros, tornaram-se argentários. A riqueza decorre do conhecimento e do trabalho habilidoso. Sem a capacidade de industriar, um torrão de argila e uma pepita de ouro têm o mesmo valor.

O azedume de quem acha que as veias da América Latina estão abertas aos vampiros capitalistas decorre de obtusidade ideológica. O nosso progresso é roubado pela estagnação, pela incapacidade de produzir conhecimento científico aplicável à natureza. Milhares de doutos em marxismo – intelectuais orgânicos – não nos tiram da periferia, não nos tornam aptos a produzir química fina, genética, energia limpa, cidades viáveis, domínio do ciclo espacial, instituições estáveis, segurança jurídica.

O empeço ao desenvolvimento é tão sufocante que recentemente um brasileiro, produtor de remédios genéricos, montou laboratório para pesquisa farmacêutica inovadora nos Estados Unidos. Fortuna de investimento dando emprego a cientistas e técnicos de outro país. Por que não o instalou aqui? Para começo de conversa, demoraria anos para obter licença ambiental; depois, as leis trabalhistas impediriam a formação de equipes remuneradas pelo resultado, sem limites para a jornada de trabalho, sem hora extra, descanso semanal remunerado. O ambiente cultural é hostil ao empreendimento. O lucro é considerado coisa do demônio, de pessoas gananciosas, do mal.

Os badulaques que tornam a vida atual menos árdua que a antiga contêm petróleo, minérios raros. Porém, principalmente, contêm inovação, ciência, tecnologia. Sentimo-nos na onda quando manejamos um tablete eletrônico, sem atinar para o fato de que entregamos os componentes em estado primário e recebemos aparelho sofisticado, cujo valor é exponencialmente maior que os bens rudes que arrancamos do solo. A troca assimétrica é culpa nossa, não do asiático e do norte-americano que engenharam e fabricaram o objeto.

Os 60 anos de monopólio de direito e de fato da Petrobras não trouxeram o paraíso. Está na hora de pensar mais com a cabeça e menos com o fígado.

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