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Aparelhos incrementados, que esporadicamente servem para telefonar, criaram a moda dos autorretratos – selfies, no idioma bárbaro. Páginas das mídias sociais são ocupadas por jovens e adultos que se fotografam em todos os locais e poses. Contudo, sempre com a limitação do alcance do braço, porque não se trata de câmera operada remotamente. Até Obama protagonizou fotografia com Cameron e a primeira-ministra (bonitona) da Noruega que parece ter causado ciúme de temperatura solar na diva Michelle.

O campo da imagem é limitado pela extensão do braço. Assim, se mais de uma pessoa é objeto da foto, ocorre ajuntamento meio torto e todos parecem amigos a ponto de se aproximarem. Ser flagrado em egofoto com alguém "complicado" é mais grave do que numa foto comum, dessas em que outra pessoa opera a câmera?

O que fazer com os dedos da mão que não está segurando a câmera? Pôr no bolso, fazer sinais com os dedos? O indicador e o médio em V para cima, significando paz e amor, é coisa de quem foi a Woodstock e se esqueceu de voltar. Em muitas fotos do finado Orkut e do vivente Facebook, adolescentes de boné fazem pose com os dedos em V pelo dorso da mão, postados na horizontal. Não sei a mensagem, mas me dá a sensação de que não é boa coisa. O velho sinal de positivo, com o dedão para cima e os demais fechados, também está fora de moda. Claro, alguns aproveitam esses dedos bobos e fazem articulações de conotação obscena e agressiva.

Olhar as mãos de quem foi fotografado revela muito da intenção da pessoa com a publicação da imagem. Também ajuda a perceber sutilezas emocionais que podem indicar desconforto com a situação ou, ao contrário, muito prazer com a companhia. Porém isso é mais próprio das fotos à moda antiga, nas quais a pessoa fotografada não posava por egolatria.

A egofoto, nesse aspecto, não se destina a guardar lembrança de algum momento importante na história de família, amigos, escola, paisagem bonita. Essas fotos iam para a caixa de sapato no maleiro do guarda-roupa e serviam, de tempos em tempos, para evocar sorrisos e lágrimas. Fotografava-se para a intimidade, para dentro. A egofoto é feita para a publicidade, para fora.

Uma foto, duas, centenas. Ai que tédio! Olhos estalados, semicerrados, sobrancelhas do Spock, boca prá lá, boca prá cá. Caretas, sorrisos, penteados, mãos. A facilidade de publicação exaure o repertório de poses e a egofoto causa enfado, conotando minimalismo de teor cerebral e de habilidade para expressar ideias por escrito.

A sôfrega instantaneidade da ação de egofotografar leva à publicação de gente escovando os dentes, olhos ainda inchados, cara amassada e, por distração da pressa ou de caso pensado, há sempre um espelho que mostra mais do que o esperado. Coleções de gafes e de exibicionismos, as egofotos são janelas eletrônicas para quem deseja a fugaz fama das curtições no Facebook. Antigamente, mas não muito, ficava-se com o cotovelo calejado de apoiar no beiral para olhar a rua e ter assunto de fofoca. Hoje, se quer a rua do mundo entrando pela janela.

A rigor, solidão acompanhada.

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