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A eleição para Presidente dos Estados Unidos tem uma conotação de espetáculo que chama a atenção mundo a fora. As pessoas acompanham os acontecimentos como lances numa competição esportiva que se prolonga por meses a fio até o clímax no dia 04 de novembro. Esse aspecto lúdico, quase de entretenimento, mostra como o senso comum acompanha os acontecimentos numa democracia. Sim, entre outros valores positivos, as eleições oferecem diversão e arte que provocam o desejo de participar ativamente do processo. A intensidade da disputa entre Obama e McCain estimula o interesse de pessoas de todos os lugares e, de certa forma, dá vontade de ir até lá e votar para presidente.

As ditaduras apresentam grandes mobilizações de pessoas e de armas em desfile. Porém o significado não é alegre, visto que as exibições se destinam a mostrar que o tirano tem poder de mobilizar a massa e usar os indivíduos como soldadinhos de chumbo numa brincadeira de criança. A multidão que marchava sincopadamente sob o palanque de Hitler, que aplaudia o cortejo dos mísseis na Praça Vermelha, que faz coreografias monumentais na Coréia do Norte, que marcha por Havana gritando palavras de ordem contra o capitalismo, promove uma encenação triste, tisnada pela fúria ideológica e pela divisão do mundo entre amigos e inimigos. Pensa-se a política apenas pela adesão ou deleção, sem cogitar a adversidade meramente momentânea e composições futuras, num jogo que tem melhor resultado pela cooperação e não pela destruição dos participantes. A vida corre em tempos sombrios, extremamente organizada e previsível, sem as emoções eletrizantes das eleições livres, abertas à diversidade do pensamento.

Os grandes processos eleitorais do mundo são belas demonstrações de gerência pacífica de divergências políticas importantes. Só por esse aspecto, a eleição americana tem assegurado seu destaque entre os eventos relevantes da história moderna.

Quanto às questões mais imediatas, as alternativas apresentadas pelos dois principais candidatos (há outros que não alcançam as luzes da ribalta) serão engolidas pela recessão já instalada na economia americana. O desemprego, a inadimplência das famílias endividadas, a falência de fundos de pensão, formam um ambiente bem diferente da euforia irracional que deu o tom às eleições desde 1992 e exigirão decisões desagradáveis para os norte-americanos e para os países que vendem a eles. O trânsito da opulência à frugalidade causará resistências políticas que exigirão do futuro presidente grande dose de carisma para obter apoio popular aos rigores da recuperação econômica.

As decisões do Presidente a ser eleito amanhã terão repercussão política e econômica global. O eventual retorno dos milhões de migrantes clandestinos da América Central que trabalham nos Estados Unidos causará impacto nos locais de origem. Além disso, o dinheiro que esses trabalhadores enviavam para as famílias fará falta nas comunidades que dependem desses emigrantes. O incremento das barreiras aos produtos da agricultura e da indústria pesada brasileira é uma possibilidade muito forte diante da pressão para manter empregos nessas atividades dentro da América do Norte.

Na popular expressão "cada um com seus problemas" não se tem em conta que as soluções de cada um criam problemas para os outros. Cada povo tem o poder de resolver as suas dificuldades como melhor entender, mas se as soluções encontradas gerarem desarranjos para os outros, novos problemas serão criados. A postura isolacionista tende a gerar desconfortos crescentes; ao contrário, a busca de soluções coordenadas dá ensejo a vantagens a todos os participantes.

Como não somos eleitores nos Estados Unidos, resta augurar que o eleito tenha brilho e juízo suficientes para conduzir com serenidade e firmeza a retirada dos soldados que estão no Iraque, a reativação da economia e não crie novas adversidades.

friedmannwendpap@gmail.com

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