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Todo império perece. Roma, China antiga, Espanha, Inglaterra, União Soviética. Quando, é a questão. Os dois remotos duraram mais de mil anos; os europeus, duzentos; o soviético, 70 anos. A China moderna impõe, urbi et orbi, a sua vontade política e econômica, freada apenas pela potência norte-americana. Esse é o mundo no começo de 2012. Até quando?

No réveillon de 1991 a bandeira rubra com a foice e o martelo foi arriada pela última vez do mastro no Kremlin. O único dos impérios assentado em ideologia implodiu sob o peso da ineficiência. Sumiu de modo tão inesperado quanto apareceu. Remanesceu a pax americana, altaneira até as torres de babel ruírem. A águia imperial, atemorizada, saiu pelo mundo à caça do terror. Invadiu o Iraque pretextando armas de destruição em massa. Ficou nove anos gastando um bilhão de dólares por dia. Faz duas semanas o último combatente voltou para casa e ao chegar não foi ovacionado por multidões, não houve chuva de papel picado nem beijo da enfermeira. A combalida economia norte-americana vê a sua vitalidade se esvair em guerras non sense, operadas como empreendimento e não ato cívico, justo em circunstâncias excepcionais. A melancolia do fenecimento soviético parece marcar a decrepitude americana. Obama não é síndico de massa falida como foi Gorbachov, mas há forte simbolismo no recolhimento da bandeira listrada dos céus de Bagdá.

O Vietnã foi batalha na guerra para conter a expansão do império soviético. Os soldados americanos saíram trôpegos de Saigon para 20 anos depois suas empresas produzirem roupas e tênis em Hanói. Perderam a batalha, ganharam a guerra. Iraque e Afeganistão são batalhas de guerra mais complexa, na qual não haverá vitória. O Afeganistão é capítulo à parte. "Vietnistão" dos russos está sendo o dos americanos. Não há império afegão se expandindo em colisão com os norte-americanos. Falece ao conflito militar no Afeganistão a definição de causa. É guerra sem nem pra quê. Decidida pelo Conselho de Segurança da ONU há nove anos, hoje parece hospício político do qual é difícil de fugir. Ainda bem que, na ânsia de sermos importantes, não enviamos soldados para essa cilada que consome o Ocidente.

Enquanto isso os chineses estão em toda parte: no computador que uso para escrever este texto, na camisa que visto, no telefone que manuseio. Na África, ocupam largas porções de terra agricultável. O espaço vital (lebensraum) exigido pelo colosso demográfico faz da China moderna império muito diferente dos predecessores e do concorrente norte-americano. A sino-presença se destina a assegurar água, alimentos, energia, minérios. Se esses bens estiverem à venda, serão comprados. Eventual escassez que os ponha fora do comércio gerará relação abrasiva entre o detentor e o império.

Não há vácuo de poder. O mundo não viverá sem impérios. A questão que nos toca é decidir se manteremos a condição de gigante gasoso, irrelevante, ou marcaremos posição para assegurar a soberania sobre nossa riqueza natural e na defesa resoluta de nossas opiniões sobre democracia, direitos individuais, liberdade religiosa e ideológica. Para o Brasil, é o começo.

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