• Carregando...
 |
| Foto:

Primeiro pensar, depois agir. É comum, após algum erro, dizer que alguém agiu sem pensar. Na verdade, não pensou o suficiente para avaliar as consequências ou, ainda que mensurados custos e benefícios, ocorreu falha na execução do que foi pensado. Nem sempre o pensamento é perceptível. Para poupar tempo diante do perigo, o cérebro tem repertório de ações e reações. À beira do abismo, perigoso raciocinar demoradamente sobre leis da física. A resposta pronta é marcha a ré, sem indagações newtonianas. Prêt-à-porter ou cosidas para a ocasião: sempre as ideias precedem os atos.

Vida gregária é natural. O modo de agregação é artificial. As alcateias não são iguais. Os artifícios para convivência são pensados antes de se convolarem em fatos. Ludwig von Mises diz que a sociedade é produto da ação humana. Não de um único pensador que, à moda dos utopistas, imagina todos os detalhes, restando a quem vive amoldar-se àquele plano. Existe uma hiperideia, uma ideologia que dá o rumo geral, e os indivíduos vão pensando e decidindo conforme interagem. Macroideia e microideias se articulam e constroem modo de viver específico, no qual os temas relevantes passam a ser objeto de pensamentos prévios, disponíveis na prateleira mental, para determinar as condutas.

Conjuntos de regras estáveis e expectativas de condutas padronizadas acerca do nascimento, casamento, filiação, trabalho, propriedade, status social, morte são denominadas de instituições. Tudo pronto para uso, sem árduas reflexões para reinventar a roda. As instituições são maiores que as ideias particulares e menores que a ideia geral. Por isso, mediam as conexões entre as partes e o todo. Na rotina da vida, olvidam-se os vínculos entre ações, instituições e ideologia.

Ludwig von Mises diz que a sociedade é produto da ação humana. Não de um único pensador que, à moda dos utopistas, imagina todos os detalhes, restando a quem vive amoldar-se àquele plano

Um bebê nascido aqui é humano como outro que nasça na mesma hora na China. Aos 20 anos, um será brasileiro; outro, chinês. A distinção não mais se apagará. Se existisse vazio institucional, não se diferenciariam ao longo da imersão na ideologia e instituições onde são criados.

Pensamentos são invisíveis como o ar. A dificuldade sensorial de percebê-los não os torna inexistentes ou irrelevantes. A rigor, a ideologia pode ser comparada à atmosfera e as instituições, a cada um dos gases que a compõem.

Todas as instituições têm o mesmo resultado? A resposta negativa leva a concluir que modos específicos de viver geram riqueza inclusiva. Outros patinam em violência, pobreza, espoliação. Acemoglu e Robinson, no livro Por que as nações fracassam, fogem do determinismo e afirmam que pequenas diferenças institucionais, combinadas com acaso, explicam os resultados desiguais.

Os autores distinguem instituições políticas e econômicas em duas classes: as extrativistas e as inclusivas. Naquelas, minorias espoliam maiorias; nessas, a melhor distribuição do poder político enseja liberdade econômica. Arriscam-se a fazer interpretação institucional da história, tentando explicar por que as inclusivas surgiram em poucos lugares e, na maior parte do mundo, prevalecem instituições extrativistas, fonte de pobreza.

A elegância da teoria é inversamente proporcional à capacidade preditiva, mas oferece bons argumentos para pensar o Brasil, especialmente quando vampiros do erário estão sendo expostos à luz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]