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Sei que nesses dias "passeáticos" toda a atenção está focada no Brasil que acordou – mas não arrumou a cama – e et coetera e tal. Só se fala nesse assunto. Como também estou na onda de ser do contra, vou falar de outra coisa. Falarei da conservação, não da mudança.

Na festa dos aniversários do mês, o tom de troça foi acentuado pela irmã que há dez anos brinda ao aniversário de 39 anos. De certa forma ela tem razão, não há causa impeditiva à comemoração dos 20 anos apenas porque eles ocorreram faz 30. Ao mote de 39 para sempre, transcorreu a festinha, tendo pizza por acepipe e prosas sobre rugas, barriga, dores nas juntas. Senti que envelhecer faz mal à saúde e percebi que há senectude que apreciamos: a das instituições públicas e privadas.

Estranho conjecturar com refrigerante e pizza em caixa de papelão, porém o desconforto diante dos efeitos do tempo me fez pensar no sentimento prazeroso de dizer que temos quase 200 anos de independência e 125 de República; a nossa última quartelada ocorreu há 49 anos; a Constituição completará 25 anos em breve! Alegria porque estão envelhecendo. Não só na seara pública há esse fenômeno. As empresas também gostam de exibir longevidade, mantendo embalagens típicas há décadas. Lata de manteiga igualzinha à da infância; talco embalado em tubo de papel. Campainhas de celular que lembram os antigos telefones fazem sucesso. Ainda que a solidez volta e meia se desfaça no ar, a permanência de algumas coisas proporciona a segurança de que o futuro não é tão imprevisível.

A instituição ocorre a partir de propósito que agrega pessoas para a sua consecução. Ele permanece, elas passam. As ideias são imortais. Claro, há boas e más ideias porque fruto da mente humana. Ideias ruins podem durar muito, a exemplo da escravidão e da tortura, amplamente apoiadas até recentemente. O 13 de maio deve ser comemorado efusivamente porque marca a vitória da dignidade sobre a indignidade.

As crianças marcham em sete de setembro (saborosa aliteração) ao som de descompassadas fanfarras escolares e, certamente, não compreendem que é festa de aniversário. Talvez as pompas mal explicadas dificultem a compreensão de que é aniversário de país nascido de uma ideia que foi refinando contornos ao longo do tempo, suficientes à individualização como instituição. Comemorar a existência do Brasil, com o gigantismo territorial e cultural, para deixar bem nítido que há nanismo político por carência de instituições provectas que deem viço à sociedade e a tornem mais forte que o Estado.

Na festa de 300 anos da independência seremos massa rotulada de antigos. Ainda que alguém seja nome de rua, nada significará emocionalmente. O festejo pode ser alegre ou triste conforme os pósteros recebam de nós bens culturais que valorizem a honestidade pessoal e coletiva, o apreço pelo estudo e pelo trabalho, o hábito de conviver com a diversidade de pensamento e comportamento, a convicção de que a democracia é sempre aperfeiçoável.

As ideias e ações de hoje moldam o amanhã, como as de ontem fizeram o hoje. Nenhuma geração é superior à outra. A rigor, cada geração é horda de bárbaros que se acultura com os que são vencidos pelo tempo. À Belchior, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

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