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Nos estudos de biologia se aprende a classificação das coisas que existem no planeta e a primeira grande divisão é entre vivo e não vivo. No conjunto denominado biota, estão vegetais e animais e, dentre esses, as classes vão dos mais simples – cuja organização celular é rudimentar – ao mais sofisticado dos que têm anima, os humanos. Ao que se sabe, somos os únicos a fazer taxonomia e, certamente por isso, o zênite está na nossa figura. O nadir dessa classificação é o reino mineral, onde não há vida. Exceto para os geólogos, as pedras não nascem, crescem e morrem. Ninguém conversa com as rochas como as crianças conversavam com os pés de laranja-lima.

Ao regar um broto de jasmim ou de ipê, se tem a noção de finitude idêntica àquela que nos leva a amar o cão que acompanhou a nossa adolescência e hoje é só memória; para o que é vivo, os eventos marcantes – nascimento e morte – são muito próximos entre si. A finitude e a brevidade fazem da vida o bem mais relevante que existe, porque sem ela, tudo é mineral. A saudade do Fus­­ca, do disco de vinil, difere porque essas coisas podem ser refeitas, não há individualidade. Mas, e se meu Fusca falasse?

Quando as máquinas falarem (espero que sem o gerundismo dos serviços de atendimento ao consumidor) será necessário um novo táxon dentro do grupo dos viventes: natural e artificial. Di­­fícil será classificar entidades híbridas, compostas de partes naturais e artificiais.

As predições feitas por escrito são temerárias porque as palavras voam e a escrita, permanece. Ainda mais em tempos de caçadores de informação que, num átimo, buscam fragmentos de palavras, imagens e sons em computadores do mundo inteiro. No passado, havia sede de in­­formação; hoje, as pessoas se afogam nos oceanos de dados. A fase tecnológica mais extensa foi produzir e acumular informação; atualmente, o estado da arte da tecnologia é tornar acessível a informação a custo módico; a fase seguinte será aumentar a capacidade cerebral de processamento da informação, não por meio químicos, cheios de efeitos colaterais porque o cérebro é lento e não tem condições físicas pa­­ra maior velocidade. Haverá me­­mórias, processadores, co­­nectados ao cérebro, permitindo a aceleração do processamento e buscas exatas no estoque imenso de conhecimento. Certa­­men­­te, vai demorar um pouco para que equipamentos auxiliem a compreensão das informações, porque compreender é cheio de sutilezas, mas também chegará esse momento.

Escassez de informação, alta capacidade relativa de memória e processamento do cérebro; abundância de informação, baixa capacidade relativa de memória e processamento. Situação antiga e atual. O passo seguinte da revolução tecnológica será modificar o usuário das máquinas para que as potencialidades sejam efetivamente utilizadas. Basta se lembrar das funções do telefone que ficam sem uso porque não se sabe como operar. Talvez, ao se lançar um produto novo, também se ofereça manual do usuário para ser implantado diretamente nos neurônios do comprador.

E a alma, o espírito? Software, não hardware. Mente, não corpo. A consciência, a percepção de si distinto do outro, algo que se possa denominar de mente poderá ser gerada a partir de computadores e transferida de uma mídia à outra como se faz hoje em anexos de mensagens eletrônicas. Con­­sumindo menos recursos para criar e manter um corpo que precisa de muita água, chocolate, churrasco, as mentes sintéticas poderiam existir aos trilhões, sem ameaçar o equilíbrio am­­bien­­tal da biosfera.

Mundo estranho sem a cintura de Brigitte Bardot, o rosto de diva e o corpo de Vênus da Camila Pitanga, as duas polegadas a mais de quadril da Marta Rocha! É bom aproveitar os calores e humores da natureza enquanto há tempo. A machina sapiens não fará um doce balanço a caminho do mar.

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