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Os reis são vitalícios. Enquanto viverem, diria o Conselheiro Acácio. A história está pontilhada de reinados breves pois, não sendo possível abreviar a investidura no cargo, encurtava-se a vida. Regicídios marcam a narrativa da história política. Raros monarcas foram longevos como as rainhas Vitória e Elizabeth do Reino Unido.

Quando os norte-americanos inventaram a república presidencialista, criaram um tipo de rei eleito com prazo certo: quatro anos. O primeiro deles, George Washington, foi reeleito e teve a grandeza de recusar o terceiro mandato, para não dar mau exemplo. Estadista, consolidou a nova forma de governar que tinha características da república senatorial romana, a eficiência da responsabilidade individual do presidente e a valorização da prudência judicial. O modelo foi desenhado pelos teóricos do Iluminismo francês. A materialização veio pela mão dos americanos.

Com o presidencialismo acabou-se o regicídio. Basta esperar o fim do período e o chefe do Estado vai para casa, sem crimes e balbúrdia institucional. A instabilidade política, uma das principais causas da pobreza, é superada por esse método simples de mudança da cúpula. Em tese, excelente criação da engenharia política, modelando instituições que sejam resistentes à cupidez de poder que acomete os mortais comuns.

A latinoamérica copiou o modelo norte-americano, mas não teve a sorte de contar com pessoas da estirpe de Washington e nem a convicção ideológica de que o Iluminismo significou a maioridade política da humanidade. Foi mimetismo puro, sem a compreensão do conteúdo imitado.

A artificialidade da estrutura institucional da América Latina impediu a geração de riqueza porque as incertezas jurídicas, a fragilidade dos contratos, são inimigas da prosperidade. Ora, em ambiente político personalista, com câmbios violentos dos ocupantes dos postos diretivos da sociedade, não há condição para investimentos de longo prazo, edificadores da expansiva infraestrutura. Não há desenvolvimento sem energia, transportes, comunicação, ciência e tecnologia. Com o palácio presidencial sendo palco de tiroteios mais ou menos frequentes entre os bandos concorrentes, a miséria é inevitável.

No Brasil, o dilatado reinado de Pedro II propiciou algum alento, dando a impressão de que as coisas caminhariam para monarquia parlamentarista à semelhança do Reino Unido. A república – obra mambembe do acaso – nos tirou da rota e, seguindo os vizinhos hispano-americanos, copiou a exitosa América do Norte. Já no primeiro quadriênio de mandato (Deodoro e Floriano) o trem saiu da linha e foi descarrilando até 1988.

A versão original da Constituição cidadã preceituava mandato único. O sucesso do presidente filósofo produziu ânimo para instituir uma reeleição. Recentemente, a muriçoca bolivariana quase inoculou o vírus dos mandatos sem fim. Pois bem, a possibilidade de uma reeleição é a causa de todos os males? Quando ela não existia, a nossa situação era melhor do que hoje?

Como demonstra o modelo norte-americano, a reeleição não é maléfica em si mesma. Portanto, a causa do nosso casamento com a mediocridade deve ser outra. Qual? Essa resposta vale uns 70 milhões de votos!

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