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UK foi a sigla forte dos séculos 18 e 19. O mundo prostrava-se a seus pés. O tempo passou, voou, e carcomeu o império nascido no dia do naufrágio da Grande y Felicisima Armada. Foram-se as colônias na África; a Índia se libertou; a Irlanda, muito antes, se afirmou. Porém, a Union Jack permaneceu tremulando majestosa, sem que o roto do tempo expusesse os pontos puídos. Símbolo, um nada que é tudo, com a licença de Pessoa.

DuK parece ser o novo acrônimo. Disunited Kingdom. O coração valente da Escócia chegou para dizer que a Muralha de Adriano conteve os bárbaros setentrionais por dezenas de gerações, mas agora querem estar à mesa com Roma, falando na primeira pessoa do plural, no seu próprio e intrincado idioma e, pasmem, de saia xadrez! O uísque eles levam.

Os separatistas perderam a votação, mas ganharam visibilidade e, na barganha política, já conquistaram mais autonomia para a região. Cerca de 5 milhões de eleitores. Menos que o eleitorado do Paraná. Não obstante, a simples realização do plebiscito foi vitória do ânimo de independência e produziu frêmito secessionista que vai agitar a Europa ocidental tanto quanto agitou a oriental há 20 anos. Córsega, Catalunha, flamengos e valões, Padânia (no norte da Itália), País Basco. O futuro parece trazer o passado de volta, mas essa fragmentação pode ser o futuro mesmo.

Os Estados multinacionais no continente europeu, a exemplo da Espanha, da Bélgica e do Reino Unido, forjados pela espada de casas reais que se fortaleceram, trouxeram para os povos agregados a vantagem de protegê-los da sanha de outros conquistadores. Raciocinavam que era preferível estar mal acompanhado a estar só. Com o desenvolvimento do projeto de formação dos Estados Unidos da Europa – a União Europeia –, o Estado de porte intermediário perdeu a razão de ser. Os microestados, aliançados na UE, têm segurança existencial e garantia de identidade política.

Gales, Escócia, Inglaterra separadas são minúsculas como as três joias do Báltico: Estônia, Letônia, Lituânia. Sob o guarda-chuva da Europa, tornam-se viáveis e dispensam a intermediação do Reino Unido. Idêntica situação ocorre na Espanha, que vê a função do governo geral se tornar dispendiosa e despicienda, atiçando o separatismo.

Até aqui, a pressão local vai confrontando o interesse regional, alimentada pela sensação de federação europeia. Como o diabo mora nos detalhes, há dois pontos a serem considerados nessa retribalização: a União Europeia é pouco mais que uma quimera e, no coração do sistema, há força gravitacional que transformará os pequenos em satélites, quiçá, meteoros: a Alemanha e a Rússia. Sim, eles não ouviram o Garrincha e se esqueceram de combinar com os "alemão" e os "russo"!

Microestados almejados pelos secessionistas atendem ao instinto tribal de identidade étnica, mas são fadados a orbitar gigantes políticos. No caso europeu, a Alemanha e a Rússia não correm o risco de pulverização e já são os polos de atração ou repulsão que induzem alinhamentos. Em cenário de prevalência do separatismo, a Europa será bipolar. De união passará a ser adesão europeia.

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