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A figura magricela de Yoani Sánchez tem traços do herói lunático criado por Miguel de Cervantes. Bonita, com alguma feiura, dá a sensação de alguém que se conhece há muito. Teclados de computadores ligados na internet são a espada, e os gigantes... os gigantes têm a face octogenária, retratando na derme engilhada o espírito que os anima: o Estado totalitário, controlador da economia, do lazer, da reprodução, do pensamento, do comportamento.

Ao esgrimir teclas para registros breves de ideias e observações triviais, quase banais, sobre a rotina da vida em Cuba, a moça alçou voos de notoriedade que nem os caudalosos discursos de Fidel lograram alcançar, confirmando a máxima de Cervantes: sê breve em teus raciocínios que a ninguém agrada ser longo.

Sem teorizar profundamente sobre política e economia, a menina se limita a narrar a epopeia para ter acesso a telefone, remédios, comida, cosméticos, xampu, sabonete. Conta as agruras da perseguição da polícia do pensamento que vela pela unanimidade bovina, o ambiente das ditaduras. Verbera contra o bloqueio norte-americano a Cuba, fóssil da crise dos mísseis em 1962 e ótima desculpa para a incompetência da dinastia Castro. São comentários opinativos, não análise científica. Porém, como ela mesma diz, opinião e traição são sinônimos se divergir de quem manda. Bem se vê, Sancho, a liberdade não é apenas um pedaço de pão!

O tom quixotesco de Yoani é a desproporção entre a sua força e a do adversário que, ao contrário da prosa de Cervantes, é real. A assimetria torna as batalhas muito interessantes porque Ellos querían lincharme, yo conversar. Ellos respondían a órdenes, yo soy un alma libre. O Brasil foi cenário de confronto entre a liberdade de pensar e expressar o pensamento e a tirania que criou o "crimideia", o crime de pensar. Sim, fomos vassalos do imperialismo que estendeu sua perseguição ao dissenso até nossas entranhas, em Feira de Santana, interior da Bahia. Sancho, me ouça, pela liberdade, assim como pela honra, pode-se e deve-se arriscar a vida.

A perda de humanidade da malta que apupou a frágil Yoani em várias localidades do Brasil, tentando impedir que o pensamento dela fluísse, lembrou a situação descrita como bullying. Agressores, organizados como matilha, acuam a presa e a atemorizam por diversão. Fazem o mal por diletantismo, como esporte. Não gosto do uso da expressão inglesa, vez que temos o verbo bulir ainda utilizado no português nordestino, porém a utilizo para expor quão "politicamente incorreto" foi o cerco articulado no Brasil para expressar apoio à monarquia Castro e divergência em relação a um de seus opositores, a Quixote de saias. Sancho, ser tirano não é ser, mas deixar de ser, e fazer que deixem de ser todos!

O senador Eduardo Suplicy mostrou, nesses episódios da passagem de Yoani por aqui, o seu valor. De escudeiro passou a cavaleiro, enfrentando a turba hostil com as armas de suas convicções democráticas. Os jovens autômatos de velhas ideias que agrediam Yoani se viram em confronto com um velho humano movido por ideias sempre novas. Vergonha pelos juniores ditadores. Orgulho pelo sênior libertário. Yoani, bem-vinda às contradições do Brasil!

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