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Faz duas semanas que es­­crevi sobre personagens marcantes que produziram inovações culturais vivendo no Rio de Janeiro e que a Cidade Maravilhosa, depois do apogeu, entrou em descenso veloz, se transformando numa fonte de medo, não de alegria. Em poucos dias me vejo diante da eleição do Rio para sede da Olim­­pí­ada de 2016! É preciso tomar fôlego, pensar duas vezes, rezar um pai-nosso e três salve-rainhas para começar a compor as ideias sobre empreitadas desse porte. Sei que essa postura pode parecer pessimista, contrastante com a festa oficial de quem se empenhou para vencer a disputa no Comitê Olí­mpico Internacional; afinal, chefes de Estado do porte de Obama, do rei Juan Carlos, fizeram esforço para levar o evento para cidades dos seus paí­ses e, contudo, o Rio foi o escolhido.

Penso que o argumento mais forte não foi o Rio em si, mas o fato de que até hoje, 113 anos depois da primeira Olimpí­ada moderna, a América do Sul ficou alijada de se­­diar os jogos. Porém, essa tese vá­­rias vezes repetida pela delegação brasileira, incluindo o presidente da República, só faz aumentar a nossa responsabilidade. Digo nossa, porque esse não é mais uma questão a ser resolvida pelos cariocas; um eventual insucesso será co­­brado de todos os brasileiros e os demais sulamericanos terão toda legitimidade para exigir que nos empenhemos muito, para que o uso do nome deles não tenha sido em vão. Triste, amedrontadora, é a possibilidade de que em 2017 a mídia mundial se lembre de De Gaulle e diga: "Não é um paí­s sério".

Apesar do calafrio, tenho um fio de esperança ao pensar que a sucessão de eventos esportivos gigantes – Copa Mundial de Futebol em 2014 e Olimpíada em 2016 – contribuirá para que as autoridades polí­ticas saiam do campo do jeitinho e assumam intensamente as responsabilidades. Se houver algum desastre na organização da Copa, haverá pânico mundial com a realização da Olimpí­ada; os dois anos de intervalo entre os eventos são margem de segurança para que algum desleixo venha à luz e seja corrigido a tempo.

A violência é o problema mais calamitoso do Rio; roubos, com morte das ví­timas, são praga que infesta a cidade e as­­sustam as pessoas; as imagens das favelas onde não há Estado de Direito visto que a polí­cia não entra porque há soberanos naqueles territórios, armados com equipamento de guerra a disseminação das drogas, formam um quadro difí­cil de mudar. Fazer evento olímpico em meio a veí­culos blindados e mi­­lhares de soldados na rua é atestar a falência da cordialidade brasileira. O ar precisa estar leve para dar espaço à alegria, ao prazer dos esportes. O ar denso, sombrio, da inse­­gu­­rança é in­­compatível com o espí­rito esportivo. Faz sentido con­­vidar o mundo a vir ao Rio para ser ví­tima de latrocínio? É nos­­so dever assegurar condições civilizadas para que os visitantes possam ver o doce balanço a ca­­minho do mar. Certamente, além de estádios, será im­­pres­­cindí­vel construir presí­dios, muitos.

O segundo aspecto é a higiene. As praias brasileiras estão repletas de sacolas, garrafas, canudinhos, lixo que enrosca nas pernas dos incautos que entram na água. As medições da salubridade da água revelam o descuido com o saneamento das cidades que lançam esgoto no mar. O cheiro dos calçadões é asqueroso; a brisa marinha foi agradável outrora.

A lista de problemas a vencer para fazer bonito em 2016 ocuparia uma página todo do jornal. Não vencer­emos esses problemas em tão pouco tempo sem a meta da Olimpíada; talvez a Copa de Futebol e os Jogos Olímpicos se­­jam nosso passaporte para a maturidade. Há de resolver, para haver ternura!

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