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Paulo Pestana faz, neste artigo, um apanhado geral sobre a vida do poeta, romancista e músico Leonard Cohen, falecido dias atrás. Pestana, ao citar uma das últimas entrevistas de Cohen, revela que o músico tinha o desejo de “colocar a casa em ordem” antes de partir dessa vida. Toda a obra dele é, em alguma medida, uma tentativa de fazê-lo, mas isso vindo de um homem melancólico com uma vida interior intensa e conturbada, a qual podemos testemunhar em letras cheias de trevas e sofrimento; mas um sofrimento que, conforme chega a maturidade, cada vez mais soa como o do servo fiel que aceita o peso da cruz aguardando o dia da redenção. Só podemos imaginar o quão incrível deve ter sido o encontro de Cohen com o Criador. Que Deus o tenha!

Para entender Cohen

Para entender Cohen a fundo, para além do fenômeno pop de Hallelujah e do rótulo simplista de “ícone da contracultura”, recomendo este texto do crítico literário Martim Vasques da Cunha. Martim mergulha nos dramas existenciais de Cohen e mostra a riqueza da obra desse artista tão singular, seja pelo lirismo das palavras tão bem colocadas, pelo apelo simbólico das imagens evocadas, pela abordagem sincera do sofrimento, pelo diálogo contínuo com o transcendente. Lembra-me, em alguma medida, Manuel Bandeira – que mesmo pertencendo ao movimento modernista, e adotando novas formas de estilo, nunca rompeu com a tradição, sobretudo na temática, quando aborda o confronto entre o que é eterno e o que é passageiro. Cohen foi a voz madura da música popular norte-americana nos anos 60. Como citei acima, Cohen queria “colocar a casa em ordem” antes de morrer, assim como Bandeira, no poema Consoada: “Quando a Indesejada das gentes chegar / (Não sei se dura ou caroável), / talvez eu tenha medo. / Talvez sorria, ou diga: / - Alô, iniludível! / O meu dia foi bom, pode a noite descer. / (A noite com os seus sortilégios.) / Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, / A mesa posta, / Com cada coisa em seu lugar”.

A “ladies’ man”

É verdade que Leonard Cohen não era muito estoico em relação aos prazeres da carne, mas seria um engano tratá-lo como um tipo de epicurista. Ao contrário, suas letras são marcadas pela reflexão de como o fogo do desejo transforma-se em cinzas, mas ele continua ali, atrelado ao “vício” das paixões. Em determinado ponto de sua carreira, ele tornou-se o que Martim Vasques da Cunha tão bem pontuou como um “Wando existencialista”. Neste texto de Xico Sá, vemos uma abordagem mais condescendente a respeito da devoção de Cohen às mulheres. Uma coisa deve ser dita: ele sabia como envolver uma mulher!

A espiritualidade de Cohen

Dilemas religiosos atormentaram Leonard Cohen durante toda a sua existência, e a despeito disso – ou até mesmo por isso –, o músico foi um sujeito de uma espiritualidade profunda. Cohen estava muito ciente da imortalidade da alma que, aprisionada num mundo de efemeridades, padece. Não obstante, ele teve o insight de que o mistério do sofrimento está vinculado ao mistério do amor. Confira esta análise no artigo de Joe Heschmeyer. (texto em inglês)

O poeta

Segundo Edward Docx, Leonard Cohen está para John Donne assim como Bob Dylan está para Shakespeare. Como poeta em sentido estrito, Cohen não foi um fenômeno, apesar de muito competente. Ele brilha de fato com suas letras de música. Assim como Donne, os temas abordados por Cohen fazem dele um “poeta metafísico”. Além disso, o apelo erótico de muitas letras de Cohen lembra John Donne ao retratar os meandros de uma sexualidade que pende ora para o sagrado, ora para o profano. (texto em inglês)

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