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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A política do prefeito de São Paulo, João Doria, de tratar a pichação com tolerância zero é louvável, e nem um pouco fútil e elitista – coisa que, segundo os críticos, só poderia vir de um sujeito que acha que “todos deveriam usar Polo Ralph Lauren” (a referência aqui é de uma fala do prefeito que foi maliciosamente distorcida e divulgada por seus detratores). A pichação é feia, intencionalmente. É para “chocar o gosto burguês”. Só a sua feiura já é motivo bastante para que não a queiramos emporcalhando as cidades. Além disso, vamos recordar de uma coisa óbvia: ela é feita em patrimônio alheio e, portanto, é uma falta de respeito (para dizer o mínimo) com o outro. A salvaguarda do patrimônio é um direito fundamental, minha gente. Mas o buraco é mais embaixo: a leniência com a pichação passa a mensagem de que o poder público não é vigilante com a segurança. É o tal problema da impunidade que o Doria está combatendo. Pichadores não estão acima da lei. Sobre o grafite, a discussão é mais interessante, porque passa pela definição de arte, mas esbarra no mesmo problema da pichação ao ferir o direito de propriedade dos demais, sejam particulares ou não. Só sobra uma alternativa moral e legalmente viável: pichem e grafitem o muro de vocês! Rodrigo da Silva simplifica o falatório em torno da questão destacando o problema patrimonial envolvido, e ainda explica a teoria da janela quebrada, que fundamenta a ação de Doria como uma política de segurança pública.

OK, vamos discutir o valor artístico do grafite: mau gosto ou arte vanguardista?

Josef Barat destaca o valor transcendente, universal e perene da arte, mostrando que é papel da arquitetura e do urbanismo criar um ambiente harmônico na cidade, precisamente porque a estética do que está ao nosso redor influencia o nosso comportamento. Nesse contexto, os grafites – pelo menos a maioria deles – deixam a desejar. Rodrigo Cássio Oliveira, doutor em Estética e Filosofia da Arte, segue outra orientação. Ele cita o neowittgensteiniano Morris Weitz, para quem a arte vai se redefinindo à medida que se abre para a inventividade dos artistas. É o caso dos grafites, que, mesmo fazendo um retrocesso para a arte figurativa, inovam no sentido de mostrar que as obras perduram porque vivem na recordação de quem as apreciou, e não porque foram endossadas por um curador que as colocou em algum museu. Nesse sentido, ele destaca o valor efêmero dos grafites: eles foram feitos para serem eventualmente apagados!

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